Teu cheiro amarfanho durante toda a cidade
e nos dentes postos sobre a mesa
como um escapulário tua lascívia eu pressinto.
Nem a lua nem teus olhos certamente me salvarão deste teu cheiro espesso.
Eu cresci nestas estranhas paragens sem estrelas entre bichos e flores
como se não fossem cobertos pela escuridão.
Apenas arfava um golpe entre o vazio de mim
e a captura de insetos do inferno em teus cabelos.
Em inquietude, me preparo para a dor.

Nelson Magalhães Filho


"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos

do mundo."
( Fernando Pessoa: Tabacaria)




Realizar trabalhos de arte a base das experiências existenciais, como transpor as imensidões dolorosas das noites urinadas. Fingir figuras concebidas do desejo e da amargura. Instigações obscurecidas pela lua. Não acretido na pintura agradável. Há algum tempo meu trabalho é como um lugar em que não se pode viver. Uma pintura inóspita e ao mesmo tempo infectada de frinchas para deixar passar as forças e os ratos. Cada vez mais ermo, vou minando a mesma terra carregada de rastros e indícios ásperos dentro de mim, para que as imagens sejam vislumbradas não apenas como um invólucro remoto de tristezas, mas também como excrementos de nosso tempo. Voltar a ser criança ou para um hospital psiquiátrico, tanto faz se meu estômago dói. Ainda não matem os porcos. A pintura precisa estar escarpada no ponto mais afastado desse curral sinistro.
Nelson Magalhães Filho

terça-feira, julho 22, 2008

Associação Espanhola ganha obras de arte baianas

Trinta e três obras de 17 artistas plásticos baianos foram doadas à Associação de Afetados de Pólio e Síndrome de Pós-pólio da Castilla e Leon, após exposição realizada em junho na cidade de Segóvia, Espanha. A mostra, intitulada “A cidade e o homem”, tem caráter itinerante e vai visitar ainda as cidades de Barcelona, Málaga e Valladolid, com o propósito de chamar a atenção para a causa defendida pela entidade. O convite aos baianos foi feito à professora Margarita Lamego, do Instituto de Ciências da Saúde (ICS), que pediu a colaboração de Graça Ramos, docente da Escola de Belas Artes (EBA), para a seleção dos expositores, entre estudantes da graduação e da pós, além de artistas plásticos formados pela EBA.
http://www.portal.ufba.br/ufbaempauta/2008/07julho/quinta10/doacoes

Detalhes da exposição podem ser visto no Youtube
http://www.youtube.com/watch?v=JD-hnIzlb2k.



Série dos ANJOS BALDIOS 2008 de Nelson Magalhães Filho em exposição itinerante pela Espanha

5 comentários:

Senhorita B. disse...

Parabéns, Nelson!
Abraços,
Renata

Anônimo disse...

há artistas que traduzem na emoção o seu mundo, nelson além de trazer a emoção e a situação daquilo que ele pinta é mais a superposição geografica aliado ao aprofundamento do corpo como o lugar da historia.
é o corpo dos seus quadros que vai se impor na vida, não como artificio antes como um intestino, um coração, um estomago, um interior.
a pintura de nelson não é a forma, é uma geografia da dor e da felicidade escrita no corpo das imaginações.
é portanto poesia a pintura de nelson magalhães filho.
um artista diferenciado e que tem uma busca propria neste caminho
da criação.

Anônimo disse...

Obrigado Renata e Ronaldo. Grande abraço.

Anônimo disse...

critica ao trabalho do artista plástico NELSON MAGALHÃES FILHO, intitulado série dos anjos baldios 2008

O trabalho do artista plástico Nelson Magalhães Filho, nomeado por ele de série dos anjos baldios 2008, tem já em sua nomeação uma decisão estética, ato de um artista que não somente preza a técnica, mais maduro, pode compreender todo o valor de uma composição, uma vez que a intitulação nos leva para uma caminhada, uma serie começa, mas, quando termina? E o que busca? O que caminha? E pra onde caminha?
Tem a composição Nelsoniana já esta busca pela verdade, e não o encontrar de uma verdade, uma vez que são anjos, mas baldios que mesmo nos ignorando, dos seus olhos nos implora dor. Nos beijam com e na sua dor. Olhar o quadro da série é beijar a minha dor mais guardada.
O trabalho do artista plástico Nelson Magalhães Filho, intitulado de série dos anjos baldios, tem um estranhamento, que somente os grande artistas possuem, sua obra um corpo sagrado numa sinfonia de acalentos, onde um crime foi praticado, um crime perfeito, e a perfeição é que é o próprio crime, porque elimina a vida, e é contra essa perfeição que o mundo dos anjos baldios se volta, pois eles sabem que o crime é mostrar o real, e realizar o real, é fechar o viver nesse pretenso real, reduzindo a vida ao meu entendimento dela. Pra ser perfeito o crime tem que eliminar a perfeição, portanto não há crimes, há dor e sombras sofrendo por entre dedos e prosas em ninhos, onde é a vida que escondida repousa para sempre.
No quadro que agora eu olho, não vejo medo nos anjos baldios, mas gestuais míticos nos doando a vida como um presente e não como uma cobrança, é a vida que escapa dos quadros de Nelson para aquele que o olha de frente, é a vida que não existe em mim que me olha de lá me dizendo: veja o meu sangue, o meu sangue é derramado na vida, na caminhada, nos encontros, nos desencontros, e tudo isso é dentro, é a vida inteira dentro e você sabe que é a vida que lhe olha por que você não pode olhar a vida.
E todo esse diálogo, quadro versus platéia, assusta aquele que olha pela primeira vez uma obra deste artista. Nelson tem que ser digerido lentamente e sem medo de sentir medo, é a minha vida que treme dos quadros dele.
Toda a geografia desta obra nos remete em cada detalhe em direção a um mundo cru, estranho e único.
Eu não vejo mais a obra do autor, eu vejo a minha dor, a minha vida fora das telenovelas, fora da meta – narrativa. Aquilo que eu vejo, não é o que o artista pintou, o artista pintou meu intestino, meu coração pesado, e minhas lembranças-lambanças. Finalmente eu abro os olhos e tomo coragem: estou agora de frente para o quadro, que por sua vez não me olha, parece olhar para uma platéia maior, como um personagem trágico do teatro grego com suas mascaras, com suas dores e sua sofrida dignidade. O quadro me mostra duas figuras que se entrelaçam e pode parecer uma única pessoa, por outro lado nos trás a uma imagem que tanto pode ser a figura do pai e do filho, como do opressor e oprimido, mas essas informações são primárias, elas não estão ali, é a minha limitação que dita a minha leitura, depois o quadro começa a falar, e meu corpo como o corpo da obra sente a presença de um algoz e vítima de si mesmo simultaneamente.
Faz-se importante salientar na série dos anjos baldios alguns pontos: primeiro que não encontramos ali a dor em demasia, a composição se completa em uma economia da dor, a obra tem na sua tragédia mais que um sofrimento e sim uma vontade de expressão que explode em um grandioso espetáculo trágico.
Também se faz importante destacar a produção do conhecimento, é o conhecer que a todo custo o quadro quer, insiste e perpassa toda a sua potência, potência de conhecimento, exalando no viver, o caminhar.
Para minha visão, se destaca entre cores fortes que mais parece meu grito, duas figuras humanas, uma de pé e outra ligeiramente à frente e com o pescoço contorcido para trás, parecendo protegido pela figura maior. Há duas informações se afirmando, uma figura parece segurar a outra com um braço que gigante desmorona uma possível cordialidade, mas também se revela uma mancha por trás deste braço ameaçador, um outro que se esconde insinuando uma possível inutilidade, e uma outra figura que olha sem linçença direto pra minha ausência.
Nelson não pinta aparências, e neste seu quadro não há pessoas, antes sombras que teimam em um não viver, é a denegação da vida em murmúrios doces, presentes em cada gestual da cor.
Sustentando um blues, Nelson nos acalenta com a firmeza da mãe que balança nos braços, cantando musicas de ninar pra dormir o filho morto, mas por outro lado, Nelson não busca a catarse, ele não aceita continuar embalando o filho morto, e essa imagem é superada no braço que inútil se esconde entre os corpos e no algoz que é vitima e na vitima que é algoz.
É no corpo que Nelson grava a sua história, e é no corpo daquele que ver o seu quadro que é definido no sofrimento uma meta, pois os olhos das sombras olham pra fora do quadro, olham pra frente e pra bem longe de ambos,eles olha a vida, e a vida ta lá fora é só lá fora que tudo ou nada pode acontecer, pois a vida não está no quadro, a vida pertence a quem olha o quadro, e é só lá fora que pode haver interesse no quadro, os personagens se tocam, mas, se ignoram, não existe relação, há um estar ali, e tanto pode ser uma brincadeira do meu próprio mundo, como uma lição tardia. Nada ta no quadro e sim tudo está fora dele. A vida esta fora dele, a morte está fora dele.
E inutilmente eu brigo com essa sombra o tempo todo a me não olhar, e perversamente sempre a me ver e insistentemente a me dizer: você não me olha, você olha você. É em você que reina tudo o que você pensa que vê, aqui é apenas você como realmente você é.
Venha, se olhe e viva.
ronaldo braga
obs: ta no meu blog

Anônimo disse...

Obrigado Ronaldo, fico muito honrado com tua crítica sobre minhas criações visuais.Abração.