Nelson Magalhães Filho. ANJOS BALDIOS 2009, acrílico s/tela, 100X80 cm
Naquela tábua horizontalmente assentada
onde indivíduos maus incriminam-se ao partir do dia,
e tantas aspersões com gotas marejadas das lamúrias
em cada lugar ermo desta cidade indecorosa...
Num só instante daqueles olhos iluminados
pela lua arroxeada e estrelas vermelhas: fomos
todos nascidos do mesmo pai e da mesma mãe
entrelaçados pelas pontas dos cabelos
bruxuleados por um breve laço de amor: sim,
poesia para deliciar nossas almas de lírios selvagens
ó fragmento orgíaco da purificação, a brutalidade
irada dos viajantes sombrios
embriagou-me naquela mesa
sob estrelas vermelhas queimadas em minha mente.
Não foi necessário prolongar meus pés nus: ainda
não era o tempo das tormentas
pois a ansiedade dos lírios selvagens não são para sempre
e nosso amor será rasgado pelo veneno
e pelos cometas ó divina inspiração: êxtase
supremo da libertação a que nada
falta das forças de nosso inferno!
Os amigos não precisam ser lamparinas
para nos conduzir até o jardim.
E quando a madrugada foi violentada por minha euforia
acendi o sol negro, derrubei rezas mortíferas,
penetrei as mãos no fundo do coração
e arranquei por fim a beleza trágica
de beijar a inquietude de meu demônio.
Nelson Magalhães Filho, em As Luminárias, 1982
5 comentários:
muito bom grande nelson.
grande abraço
tinha que ser um anjo baldio pra violentar a madrugada e acender um sol negro.
raça de cachorro ruim?
anjo e cachorro.
gosto pra caralho do jeito que tú escreve man.
um puta abraço.
Beleza de poema: intenso, viril, lírico, maldito. Amei. Merecem ressalva estes versos:"E quando a madrugada foi violentada por minha euforia
acendi o sol negro, derrubei rezas mortíferas,
penetrei as mãos no fundo do coração
e arranquei por fim a beleza trágica
de beijar a inquietude de meu demônio."
Sensacional.
Impressionante e tbm com um leve toque aterrorizante!!
Muito bom, Nelson! Abraço.
Postar um comentário