Teu cheiro amarfanho durante toda a cidade
e nos dentes postos sobre a mesa
como um escapulário tua lascívia eu pressinto.
Nem a lua nem teus olhos certamente me salvarão deste teu cheiro espesso.
Eu cresci nestas estranhas paragens sem estrelas entre bichos e flores
como se não fossem cobertos pela escuridão.
Apenas arfava um golpe entre o vazio de mim
e a captura de insetos do inferno em teus cabelos.
Em inquietude, me preparo para a dor.

Nelson Magalhães Filho


"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos

do mundo."
( Fernando Pessoa: Tabacaria)




Realizar trabalhos de arte a base das experiências existenciais, como transpor as imensidões dolorosas das noites urinadas. Fingir figuras concebidas do desejo e da amargura. Instigações obscurecidas pela lua. Não acretido na pintura agradável. Há algum tempo meu trabalho é como um lugar em que não se pode viver. Uma pintura inóspita e ao mesmo tempo infectada de frinchas para deixar passar as forças e os ratos. Cada vez mais ermo, vou minando a mesma terra carregada de rastros e indícios ásperos dentro de mim, para que as imagens sejam vislumbradas não apenas como um invólucro remoto de tristezas, mas também como excrementos de nosso tempo. Voltar a ser criança ou para um hospital psiquiátrico, tanto faz se meu estômago dói. Ainda não matem os porcos. A pintura precisa estar escarpada no ponto mais afastado desse curral sinistro.
Nelson Magalhães Filho

quinta-feira, julho 30, 2020

MALVIR

MALVIR



MALVIR Nelson Magalhães Filho [ 24'22'', Experimental, 2018 ] Cruz das Almas - BA anjosbaldios@gmail.com
Apresentando: Luciano Fraga (Sr. Malvir) e Ailla Cardoso
Direção de Arte e Fotografia: Nelson Magalhães Filho e Jean Ouro Roteiro e Direção: Nelson Magalhães Filho
Curso de Cinema e Audiovisual da UFRB - Cachoeira - BA Malvir, senhor das cobiças esmagadoras, mensageiro de um sôfrego ardor, está sentado nas margens de um rio de barro negro, enquanto uma mulher abeira-se vagarosamente remando uma canoa. Sr. Malvir não vai receber seu beijo, nem a deixará apanhar suas ilusões, mas ele despejará um ramo de acácias sobre as águas sombrias.

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