SARIGO - história em quadrinhos
Desenhos: Nelson Magalhães Filho
Poemas: Graça Sena
SARIGO
Em seu estudo sobre as relações entre espacialidade e temporalidade na
construção de quadrinhos abstratos, o pesquisador Guilherme L. B. e Silveira
informa que a produção contemporânea das histórias em quadrinhos tem
apresentado uma série de rupturas que se escoram em outras linguagens, na
tentativa de se desvincular das estratégias narrativas mais desgastadas dessa
linguagem, bem como de seus gêneros cristalizados – super-herói, faroeste,
aventura, terror, entre outros. Ele mostra que, principalmente a partir dos
anos 1980, uma grande aproximação, das histórias em quadrinhos, com as
literaturas, artes visuais e música se apresenta. Seja pela narrativa
cotidiana, com personagens não-contínuos, relatos autobiográficos, experimentação
visual e textual ou exercícios de sentido pelo ritmo e a mancha da imagem na
página, outras linguagens serviram de impulso criativo.
Assim. o que se busca, portanto, é a exploração das potencialidades de
abstração da imagem e da narrativa, a partir da quebra de ritmo no espaço da
página, na imagem e no texto construído. A partir de rupturas com a linearidade
narrativa, que passa a não se prender ao cânone de três atos – início, meio e
fim – vê-se a possibilidade de que as histórias em quadrinhos passem a se
apresentar como um conjunto de imagens justapostas coerentes conceitualmente,
que pode manter uma narratividade, mas não se prende a ela em sentido restrito.
Nessa vertante, foi produzido Sarigo, um fanzine de 14 páginas
com poemas de Graça Sena sobre desenhos de Nelson Magalhães Filho. Embora sem
linearidade, Sarigo apresenta uma realidade distópica onde os personagens
Ângela (uma angustiada sobrevivente do caos) e Brasilton (um sariguê
anti-fascista que tenta burlar as truculências do manda-chuva do pedaço), vivem suas trágicas histórias. O encontro dos dois se dá por meio de
monólogos em que narram sobre um país em frangalhos permeado pela violência e
pelo obscurantismo.
Graça Sena
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