Nelson Magalhães Filho. ANJOS SOBRE O RECÔNCAVO 2008, acrílica s/tela, 70X50 cm
Ames a derrota como se fosse o triunfo e aceites o triunfo como se fosse a derrota. É preciso ser derrotado. É preciso ser ridículo: é preciso ser o mais ridículo que se possa, beirando à imbecilidade. É preciso que os outros passem e digam, com superioridade, pena raivosa, indiferença: néscio. Idiota. Abobalhado. Caprichosamente babaca. Extremamente necessário é que essa idiotia seja acompanhada de um sentimento nobre de orgulho. O orgulho de ser um imbecil completo. Imbecil com preciosismo. Débil com cinismo. Abestalhado com precisão.
É preciso que se ponha a nu em público, como nos sonhos de alguns. Não como o rei que está nu e pensa que está luxuosamente vestido, mas como o mendigo, o louco, o vagabundo que sabe que está nu, nu e com pompas – luxuosamente nu. É preciso ainda ser gozado, que os outros passem e sussurrem, e comentem e urrem, que sua existência é um atentado ao pudor. Um atentado à academia, ao legado da civilização, ao senso comum, à norma, à moda, às condições normais de temperatura e pressão, às top models, à cultura, à associação brasileira de normas técnicas.
É preciso fazer do defeito escancarado, do erro, do desacerto, a razão própria e alento único do existir. É preciso que o superego durma babando e roncando no mijo da calcada pública, mas é preciso ter uma grande alegria eriçando cada pelo e uma grande bondade habitando em cada poro.
E é absolutamente preciso que chova então, e que se chore, caso haja o desejo. Ou é preciso uma enorme gargalhada para abafar as buzinas do trânsito. É preciso que tudo – absolutamente tudo – esteja inundado na imprecisão. E que se durma dois dias seguidos e que se acorde sem saber em que dia da semana estamos, nem do mês, nem em que mês estamos. E é ainda preciso esquecer a idade que se tem, precisando refazer as contas a partir do fatídico ano do nascimento. É preciso fazer aniversários e se esquecer, mas com uma dignidade senhora de ser um ser humano atemporal.
Então, úmidos, frágeis, recobertos de sangue como fetos letrados, é preciso sentir o primeiro frio do nascimento. O choro não é preciso. É preciso estar recém nascido a cada segundo, e ser o filho bastardo do mundo, rejeitado, enjeitado, manco, aleijado, deformado, congenitamente inviável. E, então, aí é preciso amamentar-se com muito deleite, mansidão e calma... e multiplicar gestos amorosos e primeiros sorrisinhos sobre os nossos carrascos.
Marília Palmeira
(Marília é estudante de Artes Visuais na EBA/Ufba)
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3 comentários:
nossa, alguém que gosta de efraim medina reyes! fico feliz... bem, não sei, querido, até a comunidade do efraim no orkut foi deletada, então fiz uma nova. acho que ele não quer mais vagar entre nós. mas se eu souber de algo, te aviso. obrigada pelo comentário. abraços & até.
Puta que pariu! Magnífico!
Putz, menstruei! Raio de texto detonante, nos vira pelo avesso até a mais remota víscera.
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