Nelson Magalhães Filho. Série Anjos Baldios, acrílica s/tela, 70 X 50cm.
fábulas de figueiras imoladas dentro da noite por acaso astúcias
são imundícies? viva a prosódia mordida suscitando indagações.
a música vinha pela janela parecia o noturno em fá sustenido maior
de chopin nesta noite que peguei um livro de john fante.
o quarto amanhecia como se alguma coisa, um perfume arrogante
sei lá, mas desobscurecia. às vezes cândida gostava
de reter a aurora em suas mãos regeladas: “você prefere tocá-la
mais tarde?” ah, esses arrepiantes quintais da infância, essas noites
de pelúcia! (talvez saídas de uma gravura gótica ou de um cochilo
de albrech durer). tudo isso é cândida que sofria de doenças
imaginárias. navegávamos nas poções de folhas arrancadas
pelas influências malévolas dos tempos recuados. o céu dessa cidade
nuviosa é como um besouro dentro de um espelho noctívago
(como dois grilos brigando cri cri cri) lagarta de fogo na muralha ruiva
do meu quarto. decidimos no caminho ver tudo que fosse alheio
e anotar no diário: sandália caída pelo avesso, osso de jasmim ouriço
do mar, carretel de linha branca, etc. aí veio o mesmo ímpeto
uma maldade intensa celestial apossando-me e tecendo, bebendo
mandrágoras, a aparição................... não é muito provável
que a lua embaciada narcotize amanhã: lá vem fernando pessoa
e Lupicínio: os camaleões são eternos inatingíveis. um relógio
ancorado numa estrela em vai-e-vem, o mundo é varrido
pelos anjos de mau agouro, tricotar teus cabelos minha amante
buliçosa mariposa talhada no peito, bebo tanino, farejo uma cravelha
num deserto improvável a busca do bálsamo olor das vestes
rasgadas nestes apontamentos do absurdo encurtando
minha aflição cortes intensos estreitos nosso futuro atávico talismã
marcado sempre na melancolia. aí gosto de olhar bem no profundo
de seus olhos de gato, e depois dou uma mijada na porta da frente.
Nelson Magalhães Filho
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