Miguel Cordeiro. Compart - 2008
Cy Twombly é um artista plástico (pintor e escultor) que figura entre os mais conceituados da contemporaneidade e um dos meus favoritos. Nascido em 1928 e americano de nascimento, porém radicado na Itália há décadas, seu trabalho é calcado no abstracionismo e caracteriza-se pela informalidade. Espécie de precursor dos artistas grafiteiros, Twombly expressa em suas obras de cunho minimalista um despojamento que assusta aqueles que acham que arte deve ser algo rebuscado. - ah, qualquer criança faz isso; - assim os desavisados costumam reagir frente aos seus trabalhos. E é claro que não é por aí, mas entende-se tal reação. É sempre mais fácil complicar e querer demonstrar habilidade acadêmica, e a arte produzida a partir da segunda metade do século 20 será sempre um enigma para aqueles que não compreendem sua abrangência. Mas de uma década para cá, e em especial aqui no Brasil, a mídia especializada fez a opção em dar destaque a uma arte que mergulhou numa viagem de hermetismo (sem lirismo ou humor), onde se destaca as abordagens que visam o simulacro, a metáfora. Uma espécie de arte duchampiana desprovida do sentido anárquico da personalidade de Marcel Duchamp. Assim vivemos esta fase em que se prolifera uma criação artística que se autodefine liberta de amarras, mas que na verdade é impregnada de conceitos estéticos acadêmicos e elitistas; mesmo que na maioria das vezes o artista em questão mal sabe desenhar uma maçã. E virou rotina nas galerias e nestes badalados salões de arte o exemplo de artista que espalha vinte cadeiras vazias frente a vinte mesas dispostas em forma circular, e em cada destas mesas repousa um computador com seu respectivo monitor e HD. E o criador tem todo um arcabouço teórico para explicar sua obra, e certamente dirá que se trata de um simulacro, uma metáfora que evoca uma lan house deserta pelo vazio existencial das relações virtuais. Uáááu, que bela definição! E a crítica acha original, genial e maravilhoso. Pura falta de informação, visto que Duchamp fez tudo isto há cem anos atrás e de forma mais criativa ao transformar objetos do cotidiano em arte. E com humor, afinal sem ironia a arte simplesmente não vibra. Engraçado é que esta tendência de arte conceitual, séria e complicada tem uma grande aceitação nas ditas vanguardas artísticas de países economicamente atrasados. E tal tipo de academicismo às avessas é algo que permanece nestes ambientes, e o Brasil é parte disto. Por aqui ainda se fala em Semana de 22, Tarsila do Amaral, Portinari e Di Cavalcanti como símbolos da modernidade artística nacional. E, no entanto, coisas interessantes e instigantes estão em todo lugar. Mas voltando a Cy Twombly, convém afirmar que sua produção aparentemente simplória está anos luz à frente destas obras de arte “cabeça” de conceitos pós modernosos.
Miguel Cordeiro
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