Teu cheiro amarfanho durante toda a cidade
e nos dentes postos sobre a mesa
como um escapulário tua lascívia eu pressinto.
Nem a lua nem teus olhos certamente me salvarão deste teu cheiro espesso.
Eu cresci nestas estranhas paragens sem estrelas entre bichos e flores
como se não fossem cobertos pela escuridão.
Apenas arfava um golpe entre o vazio de mim
e a captura de insetos do inferno em teus cabelos.
Em inquietude, me preparo para a dor.

Nelson Magalhães Filho


"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos

do mundo."
( Fernando Pessoa: Tabacaria)




Realizar trabalhos de arte a base das experiências existenciais, como transpor as imensidões dolorosas das noites urinadas. Fingir figuras concebidas do desejo e da amargura. Instigações obscurecidas pela lua. Não acretido na pintura agradável. Há algum tempo meu trabalho é como um lugar em que não se pode viver. Uma pintura inóspita e ao mesmo tempo infectada de frinchas para deixar passar as forças e os ratos. Cada vez mais ermo, vou minando a mesma terra carregada de rastros e indícios ásperos dentro de mim, para que as imagens sejam vislumbradas não apenas como um invólucro remoto de tristezas, mas também como excrementos de nosso tempo. Voltar a ser criança ou para um hospital psiquiátrico, tanto faz se meu estômago dói. Ainda não matem os porcos. A pintura precisa estar escarpada no ponto mais afastado desse curral sinistro.
Nelson Magalhães Filho

terça-feira, novembro 29, 2011


Cinecachoeira – revista de cinema da UFRB

Dia 30 de novembro de 2011 será lançado o terceiro número de Cinecachoeira – revista de cinema da UFRB, sobre o curta-metragem. Um dossiê especial com a história, a forma de expressão e comunicação dos filmes ligeiros foi feito com a participação de Giba Assis Brasil, Roberto Moura, Guido Araújo, Marcelo Ikeda, Guilherme Sarmiento, Fernanda Aguiar, Emerson Dias e professores e alunos do CAHL. Neste número, uma entrevista com os realizadores e produtores baianos Cláudio Marques e Marília Hughes, relatando sua experiência como curta metragistas e promotores do Panorama Internacional Coisa de Cinema. 
 
A novidade é uma seção de quadrinhos, “Cinefilia”, concebida em conjunto com Marcos Franco, roteirista e quadrinista baiano, onde o universo do cinema é tratado com irreverência.

O lançamento será dia 30 de dezembro, às 19 h, na Praça da Aclamação, com uma sessão especial de curta-metragem realizada em parceria com o Cineclube Mário Gusmão trazendo os seguintes títulos:
A velha a fiar, de Humberto Mauro;
Um sol alaranjado, de Eduardo Valente;
Saliva, de Esmir Filho;
O coração do mundo, de Guy Maddin;
By de Kiss, Yann Gonzalez;
E a estreia do curta de Leon Sampaio, O cadeado.

PATTI SMITH





Nelson Magalhães Filho. Morte pelo sonho, mista s/madeira, 1991


da região despovoada de meu cérebro
retornarei ermo, pois é preciso abandonar
estas catástrofes silenciosas
que velam durante a noite.
retornarei oco do deserto
algures condenado pelo desmando de flores
cuspidas da boca sem querer,
devasso no vazio das tardes sem lágrimas.
Nelson Magalhães Filho



quarta-feira, novembro 09, 2011

TOM WAITS