Teu cheiro amarfanho durante toda a cidade
e nos dentes postos sobre a mesa
como um escapulário tua lascívia eu pressinto.
Nem a lua nem teus olhos certamente me salvarão deste teu cheiro espesso.
Eu cresci nestas estranhas paragens sem estrelas entre bichos e flores
como se não fossem cobertos pela escuridão.
Apenas arfava um golpe entre o vazio de mim
e a captura de insetos do inferno em teus cabelos.
Em inquietude, me preparo para a dor.

Nelson Magalhães Filho


"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos

do mundo."
( Fernando Pessoa: Tabacaria)




Realizar trabalhos de arte a base das experiências existenciais, como transpor as imensidões dolorosas das noites urinadas. Fingir figuras concebidas do desejo e da amargura. Instigações obscurecidas pela lua. Não acretido na pintura agradável. Há algum tempo meu trabalho é como um lugar em que não se pode viver. Uma pintura inóspita e ao mesmo tempo infectada de frinchas para deixar passar as forças e os ratos. Cada vez mais ermo, vou minando a mesma terra carregada de rastros e indícios ásperos dentro de mim, para que as imagens sejam vislumbradas não apenas como um invólucro remoto de tristezas, mas também como excrementos de nosso tempo. Voltar a ser criança ou para um hospital psiquiátrico, tanto faz se meu estômago dói. Ainda não matem os porcos. A pintura precisa estar escarpada no ponto mais afastado desse curral sinistro.
Nelson Magalhães Filho

sexta-feira, setembro 28, 2007

trilha sonora para este fim de semana

quarta-feira, setembro 26, 2007

Nelson Magalhães Filho. Série LUARES SINISTROS, 2006, mista s/ papel craft, 120X105 cm


quando me saquei te parindo mula dragão
porca, hein, eu te amo como os partos
prematuros dos insetos multiplicando-se
compulsoriamente cada
vez mais e mais em suicídios
herméticos tocando-nos tanto de leve o rosto
e não sentindo tuas mãos lindas
eu dormente até às vísceras.
cor de revelação dos santos.
ou como beber vinhos coalhados-insensatez
te amo vestida girassol
e duas chaves de marinheiro
penduradas no pescoço delicado e dois enígmas
lidos nas cartas desta madrugada
dama dos visionários recortada de um livro
de fumaça escoada, esverdeando-se.
abarcas,
tu: cavas minha mente
em retalhos
e os segredos deixei-os nas gavetas vazias
querendo-se descobrir àquela fundura.

Nelson Magalhães Filho, de A Cara do Fogo

terça-feira, setembro 25, 2007

Nelson Magalhães Filho. Série LUARES SINISTROS, mista s/ papel craft, 120X105 cm

cão e sujo
fervilha pelas ruas, hálito
acre
ao lado dos vermes.
furtiva sua beleza
no sorvedouro
consumindo-se
e passa portal de fogo
sopra a esmo
escárnio de pélago
finca escamas nas estrelas.
noite após noite
seu brilho estúpido
ainda atormenta
clivagem traiçoeira,
astúcia mortal.

Nelson Magalhães filho, de A Cara do Fogo

segunda-feira, setembro 24, 2007

Nelson Magalhães Filho. Série ANJOS BALDIOS, 2006, mista s/ papel craft, 120X105 cm


dores douradas sem perfume
a televisão ligada fora do ar
um livro antigo na cadeira.
vadiagem
cotidiano demolido
um gato entre o oco
e a imensidão.
petulantes acácias
torta de abacaxi semeada
tertúlias e esmeraldas
prometem essa dor.
insondável bardo
cáustico arremesso de bálsamos
contra o muro das eras
pilotando uma seta ingrata.

Nelson Magalhães Filho, de A Cara do Fogo

sábado, setembro 22, 2007

HOJE - caruru dos 7 poetas

RESIDÊNCIA ARTÍSTICA




Comunicado

O Theatro XVIII fecha suas portas nesta sexta-feira, 21 de setembro de 2007, por absoluta falta de condições de manter-se em funcionamento. O contrato de manutenção das suas despesas básicas (energia elétrica, água, folha de pagamento de funcionários e prestadores de serviços) - vencido em fevereiro de 2007 e aditado em 20% do seu valor para cobrir despesas de 6 meses (março, abril, maio, junho, julho e agosto deste ano) – ainda não foi renovado, criando dívidas impagáveis.
Inaugurado em 1997 como espaço âncora do Pelourinho, o Theatro XVIII ultrapassou seu objetivo inicial tornando-se uma casa de pensamento - "universidade a céu aberto" – com um padrão especial de requinte, simplicidade e originalidade, verdadeiramente democrático. Sua gestão manteve o foco na difusão real da cultura, colocando-a de forma acessível a todos os públicos. Na sua sala de espetáculos estrearam algumas das montagens mais significativas do teatro baiano em seu bom momento atual. Suas aulas de história da Bahia, seus saraus, suas palestras discutiram a cidade, a arte universal e a vida contemporânea, propiciando novos olhares sobre o mundo em uma sociedade que carece muito de auto-reflexão.
Livre, como deve ser uma casa de pensamento, o Theatro XVIII fechará suas portas físicas porque não existe "longa vida" sem água e luz, e aguarda que a Secretaria de Cultura confirme a sua intenção de manter a inteligência democrática do espaço em funcionamento, como nos últimos dez anos. As crianças dos Miúdos da Ladeira e os jovens da Companhia Axé do XVIII continuarão tendo aulas no Anexo.
À imprensa, os artistas dos XVIII solicitam a divulgação deste comunicado, para que seus milhares de espectadores tomem conhecimento desta situação que se espera temporária e breve.
Aninha franco e Rita Assemany estarão à disposição da imprensa para maiores esclarecimentos na segunda-feira, 24 de setembro, às 10 horas da manhã, no próprio Theatro XVIII - Rua Frei Vicente, nº 18, Pelourinho.

sexta-feira, setembro 21, 2007

Nelson Magalhães Filho. Série ANJOS BALDIOS, 2006, mista s/ papel craft, 120X105 cm

um cavalo-bailarino desencravado da terra.
saga dos grifos
a cara do fogo.
faço garranchos coloridos.
as banshees.
desapercebido na fluência das rezas
o galo celestial sobrevoa estradas que nos levam à porta secreta dos elfos.
desembarquei numa terra desconhecida
enquanto gritavas com um cesto de rêmoras nas mãos:
bruxo é
cavalo santo,
cálido.

Nelson Magalhães Filho

quinta-feira, setembro 20, 2007

Nelson Magalhães Filho. Série ANJOS BALDIOS, 2006, mista s/ papel craft, 120X105 cm

agora desentregar-me-ia
sufocantemente às damas
das ruas fedidas-devorado
e adoecido pelas velhas luzes
que vão e que voltam, porque-vesânico:
prostituindo-me pouco a pouco
errando-me nas coxas de begônia
jorrando-me nas mães estreitas
esmago
momentaneamante esse desvario.
contra os postes e os automóveis
cintilantes por causa da lua
de monstros-latiam
porque sitar remosa:
alisas meus cabelos
ranges meus ossos
desmelancolizados
através das doutrinas secretas
de tua agudez
pré-histórica.

Nelson Magalhães Filho

quarta-feira, setembro 19, 2007

Escola de Belas Artes - UFBA

Curso de Extensão em Fotografia Digital

Programa do Curso

• História da Fotografia
• A Fotografia Convencional e a Digital
• Formação da Imagem Digital
• Resolução de Imagem
• Recursos da Câmera : operação da Câmera Fotográfica
• Os formatos de arquivos: RAW,TIFF, JPEG, PSD.
• Iluminação na Fotografia Digital
• Composição Fotográfica
• Meios de veiculação das imagens Digitais: Internet e Impressão
• Manipulação de Imagem: Adobe Photoshop
• Criação de imagens Panorâmicas
• O Preto e Branco no mundo Digital
• Linguagem Fotográfica
Fotografia Digital e Arte: formas criativas de expressão artística

Cláudio Fontoura Jr.
Secretário do Depto. II
Escola de Belas Artes - UFBA.
Nelson Magalhães Filho. Série CONSPIRAÇÕES, 2004, mista s/ papelão, 100X80 cm

um tordo pousa.
corpo que se vai, deixando a cama vazia
beberei licores terríveis
urinando nas rosas
mascando folhas verdes: abordei o anjo,
mas ele só tinha brilho de calamidade
constelações carrascas.
o tempo
das saudades já passou
labirintos acobreados
lâminas de isolamento
peito delicado sentindo morte
e centauros.
aquiete-se,
destruir a persistência dos relógios
que afloram sem cessar.
inferno
prenhe de animáculos.

Nelson Magalhães filho, de A Cara do Fogo

terça-feira, setembro 18, 2007

Nelson Magalhães Filho. Série ANJOS BALDIOS, 2006, mista s/ papel craft, 120X105 cm

os amores sempre terminam.
lembro-me de você rasgando pelos olhos
um anjo do senhor.
os amores terminam em sonhos vis
como nas pinturas medievais
e nas labaredas inchadas.
os amores, sempre travessias burlescas.

Nelson Magalhães filho

segunda-feira, setembro 17, 2007

MILAGRES DESCONHECIDOS Em tua casa descoberta na tormenta
todos os corpos serão possíveis: seios
instalados como lâmpadas nos confins
de um gozo emboscado entre dois mundos.
Cada corpo uma chave, com seus dentes
mascando um segredo antes da perda.
Vagará por entre os cômodos um abismo
sem que reconheça a ossada de seus danos.
Tua nudez imune frequenta todos eles,
os corpos alojados sob a tinta soluçante,
paradeiro aflito de uma fuga de quimeras.
Com seus lábios despistando espelhos, cada
corpo se orgulha de abrigar outros tantos,
sem saber ao certo onde plantou sua morada.

poema & imagem: floriano martins
setembro de 2007

O Caruru dos Sete Poetas – Recital com gostinho de dendê – é um evento que une à literatura um momento da cultura baiana de reverência aos Ibejis, da tradição afro-brasileira, e aos santos católicos São Cosme e São Damião. Numa analogia aos sete meninos das manifestações religiosas, este projeto promove o encontro de sete escritores para recitar seus poemas e celebrar a cultura e a literatura baiana. Além dos sete poetas convidados, contaremos nesta 4ª edição do projeto com a participação de outros poetas nacionais e Colombianos / Caribenhos, da apresentação de performances de poesia dramática, circense e música afro. Haverá também o lançamento de uma publicação com poemas dos poetas desta edição do projeto em parceria com a Fundação Pedro Calmon do Estado da Bahia.
Neste ano de 2007 o Caruru dos Sete Poetas trará na sua programação a participação dos poetas José Carlos Limeira, Landê Onawale, Rita Santana, Nuno Gonçalves (Ceará), Lita Passos, Fausto Joaquim e Besouro. Além dos 7 “poetas-meninos”, contaremos com a presença dos poetas de Cartagena de Índias / Colômbia: Martins Salas, Gustavo Tatis e Nena Contillo, Jojer Herrera (poeta e cineasta da Venezuela) e dos poetas Bruno Candéas (Pernambuco - Recife), Douglas de Almeida e Geraldo Maia (Bahia).
Na pauta contaremos também com a participação da performance teatral-poética de Inaê Sodré, da música afro-barroca do grupo musical Jêje Nagô e da apresentação de poesia e dança do grupo Xirê Mirim do Rosarinho.
Acontecerá o evento no dia 22 de setembro de 2007 (sábado), a partir das 20h, na Igreja do Rosário dos Pretos (Ladeira do Rosarinho em Cachoeira - Ba).
O acesso é gratuito.

Histórico do Projeto

Idealizado pelo poeta João de Moraes Filho com o objetivo de promover o diálogo e a interação entre a poesia e cultura baiana, em 2004 nasceu o Caruru dos Sete Poetas – Recital com gostinho de dendê.
Marcado pela diversidade de linguagens, de tendências e correntes poéticas e de público, o que se buscou no processo de gestação do projeto foi dar movimento e magia à poesia. Foi agregar pessoas para ouvir poesia na voz do/a poeta-mãe. Foi expor a poesia do corpo e da dança, do teatro, do palhaço, da música... sob a linguagem da poesia. Foi unir sete escritores, com alma de criança e poeta, para celebrar a literatura e nossas tradições culturais. E assim foi! E assim tem sido!
Na 1ª edição o evento aconteceu em Salvador, no Restaurante Zanzibar, no dia 25 de setembro de 2004 e teve entre os sete os poetas José Inácio Vieira de Melo, Cleberton Santos, Miguel Carneiro, Vanessa Buffone, Fabrícia Miranda, Eliseu Moreira Paranaguá e João de Moraes Filho. Contou também com a performance de dança e poesia de Carol Diniz e com a encenação da atriz e poeta Inaê Sodré.
Em 2005, 2ª edição, o evento migra para a cidade de Cachoeira e lá se estabeleceu. Aconteceu na Casa da Cultura no dia 25 de setembro. Com muito fogo e encanto ele se iniciou pela dança de malabares com o grupo Balaclava. Os sete poetas da noite foram Cleberton Santos, Carine Araújo, João de Moraes Filho, José Inácio Vieira de Melo, Fabrícia Miranda, Rony Bonn e Vanessa Buffone. A noite também foi agraciada pelo som afro-barroco do grupo musical Jêje-Nagô.
Em 2006 foi a vez da voz feminina e dos sons dos tambores abrirem o evento com o grupo Importuno Poético de Jocélia Fonseca e Lutigardi Oliveira. Dentre os sete poetas e cordelistas estavam Jotacê Freitas, Gildemar Sena, Adriano Eysen, edmar Vieira, Douglas de Almeida, Wesley Barbosa e Puluca Pires. Para encerrar a noite contamos com a música do grupo Zacatimuana. Aconteceu no dia 23 de setembro no Ponto de Cultura Terreiro Cultural.
Nesta 4ª edição acontecerá na Igreja do Rosário dos Pretos e contará com a presença dos poetas José Carlos Limeira, Landê Onawale, Rita Santana, Nuno Gonçalves, Lita Passos, Fausto Joaquim e Besouro. Na pauta contaremos também com a participação da performance teatral-poética de Inaê Sodré, da música afro-barroca do grupo musical Jêje Nagô e da apresentação de poesia e dança do grupo Xirê Mirim do Rosarinho. Haverá a publicação de um poemário com os sete poetas envolvidos e tomando dimensões nacionais e internacionais, contaremos com a presença dos poetas de Cartagena de Índias / Colômbia: Martins Salas, Gustavo Tatis e Nena Contillo, do venezuelano Jojer Herrera e pernambucano Bruno Candéas.


Maiores informações:
· João de Moraes Filho
(71) 9942-3682 / (75) 8132-0072
escrevista@gmail.com

· Luísa Mahin do Nascimento
(71) 9915-3478
luisamahin@gmail.com




As aulas do Curso de Fotografia Digital da EBA/UFBA mudaram para a forma que segue:

· Quintas das 18:30' as 20:30'.
· Sábados das 09:30' as 11:30'.
Começando no dia 27/09/2007 até 27/10/2007.
Pedimos desculpas pelo erro de informação e nos colocamos a inteira disposição para eventuais dúvidas.
Atenciosamente

Cláudio Fontoura.
Secretário do Depto. II
Escola de Belas Artes - UFBA.
C O N V I T E
Abrindo a programação do Festival de Poesia Salvador Cachoeira,
que irá acontecer de 17 a 23 de setembro nas cidades
do Salvador e de Cachoeira, a mesa-redonda

POESIA E DIVERSIDADE ÉTNICO-CULTURAL
Dia 17 de setembro (segunda-feira) às 18h30min
Biblioteca Pública do Estado - Barris
Salvador, Bahia
EXPOSITORES:
Ademario Ribeiro (matriz indígena)
Lande Onawale (matriz africana)
Adriano Eysen (matriz européia)

Festival de Poesia Salvador Cachoeira
convida para o projeto
POESIA NA BOCA DA NOITE
com os poetas
Márcia Tude & José Luís Franco
Participação especial: Wodrum
e para o recital
B I C H O – H O M E M
com os poetas
Edmar Vieira & José Inácio Vieira de Melo
Coordenação do Festival de Poesia Salvador Cachoeira:
Douglas de Almeida
Coordenação do Projeto Poesia na Boca da Noite:
José Inácio Vieira de Melo
Data: 21 de setembro de 2007 (sexta-feira) Horário: 19h
Local: Teatro Gregório de Matos – Praça Castro Alves, S/N – Centro
Salvador – Bahia – Brasil
Entrada franca

domingo, setembro 16, 2007

A Revista Eletrônica Cultural Diversos Afins apresenta nesta 13 Leva as pinturas de Nelson Magalhães Filho

A arte do baiano Nelson Magalhães Filho visita as paisagens existenciais, vivenciando uma espécie de exorcismo a certas faces humanas obscuras. O artista não acredita na pintura agradável e, em sua incisiva fala, nos diz: “Cada vez mais ermo, vou minando a mesma terra carregada de rastros e indícios ásperos dentro de mim, para que as imagens sejam vislumbradas não apenas como um invólucro remoto de tristezas, mas também como excrementos de nosso tempo”.
CLICA AQUI: http://www.diversos-afins.blogspot.com/

quinta-feira, setembro 13, 2007

Nelson Magalhães Filho. Série ANJOS BALDIOS, 2006, mista s/ papel craft, 120X105 cm

crucial viagem de ônibus
o gesto

enlouquecido do mago

ser excesso,
voltejar-bizarro

as aves sem nome
nas ervas

vaguear só
sem pétalas

sua presença fugaz, e
deslizo nas almas
dos passageiros
como um feiticeiro.

Nelson Magalhães Filho
Gozo frio

Grupusina apresenta
GOZO FRIO
Biblioteca Pública - Barris - Salvador - BA
03 de agosto a 28 de setembro de 2007
Sextas feiras às 20 horas
Entrada franca

quarta-feira, setembro 12, 2007

ALICE na XXXIV Jornada Internacional de Cinema da Bahia

Hoje às 16 horas na Sala Walter da Silveira foi exibido o vídeo ALICE, de Nelson Magalhães Filho, no Programa I - NOVA PRODUÇÃO DO CINEMA BAHIANO, dentro da XXXIV Jornada Internacional de Cinema da Bahia.
ALICE, 13', ficção, 2006, com Pablo Sales.
Vídeo SENSAÇÕES CONTRÁRIAS, gravado em Cruz das Almas, vence Galgo de Ouro em Gramado

O vídeo SENSAÇÕES CONTRÁRIAS recebeu o Galgo de Ouro de Melhor vídeo experimental no Festival Gramado Cine Vídeo 2007. Com direção de Amadeu Alban, Jorge Alencar e Matheus Rocha, foi gravado no casarão colonial da Fazenda Campo Limpo
de minha amiga Lita Passos, na cidade de Cruz das Almas - BA.

terça-feira, setembro 11, 2007

Nelson Magalhães Filho. Série 2004-2006, mista s/ papel, 70X50 cm

camaleão caído de peixes em chagas
vai embora com os ratos.
consulta oráculos, iniciação de pântano
pela tua saliva,
infiltra segredos de séculos na carne
até aves de rapina definhem
tuas asas pardacentas
cubram a mágoa e os sinais.
teu destino,
sangue e outras luas.
tua vida, dois acasos no tempo
vestígios de um ventre espesso.

Nelson Magalhães Filho

Curso de Fotografia Digital.

Local: Escola de Belas Artes – UFBA.
Período: de 26/set a 27/out/2007.
Horário: Quartas das 18:30h às 20:30h.
Sábados das 09:00h às 11:00h.
Carga Horária: 20h. (Certificado reconhecido pelo MEC.)
Investimento: R$250,00 em até 02 vezes (R$125,00 no ato da inscrição e R$125,00 para 30 dias).
Inscrições: Das 08:00h as 12:00h e das 13:30h as 17:30h. na:
FAPEX – R. Caetano Moura, 140 – Federação. Fone: (71)3183-8460.
(Próximo a Faculdade de Arquitetura da UFBA.)

Informações: Departamento II-EBA (71)3283-7920 (a tarde)
Cláudio Fontoura.

Secretário do Depto. II
Escola de Belas Artes - UFBA.
Nelson Magalhães Filho. S/Título, 2002, mista s/ papel, 70X50 cm
Pintura especialmente feita para a capa de Contos de Agosto, de Pablo Sales (Prêmio Braskem Cultura e Arte) que infelizmente não foi creditada no livro.

O dia em que Quentin Tarantino encontrou Jack Kerouac

Para Nelson e Ronaldo

Quando foi, não me recordo exatamente, mas as casas eram antigas (e velhas), porém muitos postes; muitos fios, a noite cor de mercúrio. O mesmo futu­ro decadente ilustrado no cinema americano, a Cruz das Almas dos meus sonhos. Na Rua da Estação o último bar baixava as portas de ferro, o velho proprietário escorraçava Kerouac que caiu protegen­do a última garrafa. Atirado ao chão esperou o nariz parar de sangrar, com a chuva fina o cigarro se partiu. Levantou-se feito um cão aleijado, o cigarro pendendo à boca. Espanou a roupa com tapas descompassados e sentou-se na praça daquela mesma rua, o absinto fustigava o frio. Naquela noite uma motocicleta rondava pelas ruas como se perseguis­se alguém. Sentado Kerouac rememorava a história daquele lugar; contam os livros era ali um imenso galpão de madeira numa terra deserta onde eram confinados os negros enlouquecidos e os brancos bastardos. Um dia, as paredes do galpão desabaram e os sobreviventes fundaram ali a Cidade das Bru­mas, hoje Cruz das Almas.
Kerouac estava ali numa tentativa infame de fu­gir dos próprios pecados. Sentado na praça espera­va o único expresso do dia, trazendo seu último amigo vivo. O trem chegou silenciosamente, apenas algumas faíscas e a fumaça branca escondendo seu solitário passageiro. Um vento repentino derrubou alguns postes e dissipou as brumas trazidas pela locomotiva. Tarantino desceu os degraus dos vagões lentamente, usava óculos escuros e suas roupas eram negras. Estranhamente, não trazia seu guarda-chu­va. Sentou-se ao lado de Kerouac, que apenas esti­cou o braço oferecendo-lhe a garrafa quase vazia. What´s up, Jack?, Fock you, respondeu ele quase sem abrir a boca. Tarantino sorria o invariável sor­riso cínico dos gatos, quase uma cicatriz numa boca rasgada. Fizeram um longo silêncio. Do outro lado da rua estava a casa do poeta que parou de escrever, na radiola tocava um disco de Marianne Faithfull, “I sit and watch as tears go by...”, pela janela podia-se ver a sombra do poeta debruçado sobre a mesa, o copo derramado, o cigarro se apagando esquecido.
E ali ficaram sentados, como dois homens esperando a amada que nunca chega. Mas Tarantino estava estranho, não quis beber, escondia algo. Kerouac sem demonstrar olhava desconfiado, o ruído da motocicleta assustou a ambos, pontuando o clima de agonia contida. Conversaram ouvindo Marianne, falaram sobre consertar o velho chevrolet para uma longa viagem por aí. Tarantino descuidado deixou sua arma na cintura mostrar-se aos olhos do amigo. Ele disse tê-la achado ao lado de um homem morto e estava descar­regada, falou ainda não gostar daquela cidade e insis­tiu em irem já para as ruínas do galpão de madeira. E, partiram pelas ruas inóspitas de Cruz das Almas, a cidade dos bêbados cruéis. Cruzaram com alguns de­les, entoaram o medo pertinente aos estrangeiros. Continuaram caminhando lentamente tendo as ave­nidas desertas como bálsamo, conhecidas a cada pal­mo por Kerouac que teve, em tempos mais selvagens, o rosto arrastado por cada pedra daquele asfalto sujo. Ainda tem algumas cicatrizes desta época difícil.
Era bem verdade já estavam bastante cansados daquela jornada infundada, não lembravam sequer o itinerário, mas dormir seria muito arriscado. O sorriso de Tarantino irritando as últimas forças do companheiro. Cachorros abandonados ladravam latidos inócuos e eles caminhavam e caminhavam, claudicantes como se miasmas tivessem impingido­-lhe gota, caminhavam chutando latas. Kerouac can­tava Marianne, há muito deixada para traz. Anda­ram até perpassar as fronteiras da cidade, ouviu-se ainda mais uma passagem da motocicleta, desta vez mais distante. Na noite seguinte, lá estava Jack Kerouac sentado no mesmo banco frio da Rua da Estação. Não esperava ninguém, apenas saboreava a própria maldição, ou somente refletia sobre ela. Quentin Tarantino nunca mais foi visto. Só a lembrança de seu sorriso urticante.

Pablo Sales, de Contos de agosto

segunda-feira, setembro 10, 2007

Nelson Magalhães Filho. Série 2004-2006, mista s/ papel, 70X50 cm


te amo quando se derrama a angústia
e a dor negra
cheia flor de goivo,
quando os bruxos-lentos
esfregam-se excitados
sobre teu corpo de amêijoa,
e esta face presa
no tempo decepado
:que eu tragaria-amor
como se fosse, nós:
uma nuvem de sangue-prenha
das entranhas pairando
bem no meio de meus dentes
lambidos da urânia.....................
............. meu bem, ainda que
todos os anjos sejam terríveis
ou que esse vazio-absurdo
espete sinistramente
a imundície de nossa carne.

Nelson Magalhães Filho

quinta-feira, setembro 06, 2007

Nelson Magalhães Filho. Série ANJOS BALDIOS, 2006, mista s/ papel craft, 120X105 cm

quero um pacto subterrâneo.
você transfigura-se num oceano terrível
antes da faca,
da serpente
o verdugo.

Nelson Magalhães Filho, de A Cara do Fogo

quarta-feira, setembro 05, 2007

poema de nelson magalhães filho na Revista "Entre Aspas"

Nelson Magalhães Filho. Da Série ANJOS BALDIOS, 2006, mista s/papel craft, 120X105 cm
Cachorro morto em noite chuvosa
sou de uma raça de cachorro ruim
desassossegado pelo sangue que
brota das noites-incompletudes escorrendo
em angústias esquivas
sou de uma raça de cachorro mau
nauseado pela lua opiada nas
madrugadas latejantes de desejos lascivos
bebendo peçonha tumultuando
os jardins com excrementos perversos.
então escancaro uma
réstia lanosa de lágrima
quando me queimo em tua lua segredada
quando substancialmente o animal
estúpido cura sua compaixão.
Nelson Magalhães Filho
Postado na Revista "Entre Aspas"

terça-feira, setembro 04, 2007

Nelson Magalhães Filho. Série 2004-2006, mista s/ papel, 70X50 cm

você pensa que estou esperando
a ausência,
que não chega nunca
com as tarântulas acesas
nem nas vísceras mais escuras
que estupradas pelas brasas
da noite-erma
pudesse me deixar só
e pouco importa.
mas não é isso que me move para o mar
meu bem, pouco me importa
se a tesoura-vertida
amolada pela minha cara de cão
crava tua alma no espelho
aceso dentro do mar.

Nelson Magalhães Filho

segunda-feira, setembro 03, 2007

Nelson Magalhães Filho. Série 2004-2006, mista s/ papel, 70X50 cm

choro tua partida
nesta desencarnada manhã
sussurro teu ouvido: agonia
é mansa, esga
um cachorro
um agosto raivoso,
anjos imersos na impudência
se reclusam
cuspindo marés
e desígnios delirantes,
costurava taciturnas
águas pela janela, orquídeas
para te esperar,
até me cercasses com punhais
possuía o mal e a febre
dos santos
beijo desespero.

Nelson Magalhães Filho