Teu cheiro amarfanho durante toda a cidade
e nos dentes postos sobre a mesa
como um escapulário tua lascívia eu pressinto.
Nem a lua nem teus olhos certamente me salvarão deste teu cheiro espesso.
Eu cresci nestas estranhas paragens sem estrelas entre bichos e flores
como se não fossem cobertos pela escuridão.
Apenas arfava um golpe entre o vazio de mim
e a captura de insetos do inferno em teus cabelos.
Em inquietude, me preparo para a dor.

Nelson Magalhães Filho


"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos

do mundo."
( Fernando Pessoa: Tabacaria)




Realizar trabalhos de arte a base das experiências existenciais, como transpor as imensidões dolorosas das noites urinadas. Fingir figuras concebidas do desejo e da amargura. Instigações obscurecidas pela lua. Não acretido na pintura agradável. Há algum tempo meu trabalho é como um lugar em que não se pode viver. Uma pintura inóspita e ao mesmo tempo infectada de frinchas para deixar passar as forças e os ratos. Cada vez mais ermo, vou minando a mesma terra carregada de rastros e indícios ásperos dentro de mim, para que as imagens sejam vislumbradas não apenas como um invólucro remoto de tristezas, mas também como excrementos de nosso tempo. Voltar a ser criança ou para um hospital psiquiátrico, tanto faz se meu estômago dói. Ainda não matem os porcos. A pintura precisa estar escarpada no ponto mais afastado desse curral sinistro.
Nelson Magalhães Filho

sexta-feira, agosto 31, 2007

Nelson Magalhães Filho. Série 2004-2006, mista s/ papel, 70X50 cm

você me adora-corrosiva
da dormência
mas nada disso adianta
lambendo os beiços ocultos.
eu desgasto
tudo ao mesmo tempo
incitando sua pureza crua
de demência
até luziada, mas
de uma outra forma,
mais arrojada de outra-aparência
as tripas
que sobram impetuosamente
nestas nossas vestes
sujas de asas
ouvindo bandoneón
adios nonino.

Nelson Magalhães Filho

quinta-feira, agosto 30, 2007










I FÓRUM de artes visuais da Bahia
31 de agosto a 02 de setembro
MAM - Museu de Arte Moderna
Av. Contorno s/n - Solar do Unhão - Salvador - BA
(71) 31176065
CONTRASTES ARTÍSTICOS Exposição colectiva de pintura, escultura e fotografia, que terá lugar na Sala D. Domingos Pinho Brandão do Mosteiro de Sta. Mafalda de Arouca. Que estará patente desde o dia 8 de Setembro (dia da sua inauguração e respectivo porto de honra pelas 17h) até ao dia 7 de Outubro de 2007.
Os artistas participantes nesta exposição, são:
Albano Ruela (Pintor/Escultor – Oliveira de Azeméis)
André Bessa (Pintor – Maia)
Camol d'Évora ( Pintor – Évora)
Carlos Belém (Pintor – Arouca)
Cátia Rodrigues- Caty ( Pintora – Vale de Cambra)
Crispim Ferreira ( Pintor – Maia)
Filipe Paiva (Pintor – Sta. Maria da Feira)
Fraguial (Pintor - Loures)
Humberto Silva (Escultor – Vale de Cambra)
João Carita ( Pintor – Lisboa)
Jorge Miguel (Pintor – S. João da Madeira)
Kim Molinero ( Pintor –Lisboa)
Lopes de Sousa ( Pintor – Aveiro)
M. Glória (Pintora – Vale de Cambra)
Norberto Ricardo (Fotógrafo – Cucujães)
Paulo Martins (Fotógrafo – Vale de Cambra)
Ricardo Passos ( Pintor – Lisboa)
Rui Sousa ( Pintor – Oliveira de Azeméis)
Susana Ribeiro (Pintora – Porto)
Veloso (Pintor – S. João da Madeira )
Vítor Ferreira (Pintor – Vale de Cambra)
Vítor Moinhos (Pintor - Lisboa)

Convidamos a visitar esta mostra de arte (e a estar presente na inauguração), destes artistas. Provenientes de variados locais do país, que através das suas obras, nos levam a “viajar” pelo incrível mundo artístico em que se inserem e o qual desejam transmitir!
Saiba mais no Blog de Artes Plásticas do Albano Ruela:
CLICA AQUI: http://neoartes.blogspot.com/
Nelson Magalhães Filho. Série 2004-2006, mista s/ papel, 70X50 cm

viajo nas marés sequiosas
noites sopram tremores de papoulas.
então tinjo-me em seivas
noites sorvendo teus lábios
até findar os tempos.

Nelson Magalhães Filho

quarta-feira, agosto 29, 2007

Nelson Magalhães Filho. Série 2004-2006, mista s/ papel, 70X50 cm


agora a lua parece o olho do anjo.

escrever cartas de amor insano
cravar-me tatuagem de uma lembrança,
um jarro partido.

mordem espinhos a abóbada carpideira
pássaros selvagens mortos no pomar
pássaros angélicos comendo os lobos.

estrelas.
pássaros vermelhos iluminados no candeeiro.

jazem lágrimas de agora: cinzel
seu corpo no santuário uma lua
o olho do anjo.

Nelson Magalhães Filho, de A Cara do Fogo

terça-feira, agosto 28, 2007

GALERIA ACBEU
Abertura: 31 de agosto às 19 h
Av. Sete de Setembro, 1883 - Corredor da Vitória
Salvador - BA



PRÊMIO BRASKEM
CLICA AQUI: http://www.braskem.com.br/





SINFONIA PATÉTICA
Cia de Orquestração Cênica apresenta:
SINFONIA PATÉTICA
Direção: César Ribeiro
5 de setembro a 28 de novembro (quartas-feiras)
ESPAÇO DOS SATYROS
Pça. Roosevelt, 214 - São Paulo - SP
(11) 3258-6345

Nelson Magalhães Filho. Série 2004-2006, mista s/ papel, 70X50 cm

essa mesma noite
de chuva minha irmã de signo
presa num bizarro triângulo
diário utópico escrito nas noites de lua
velásquez e a vênus
do espelho
e essa dor?
vago nessas ruas escuras
e mais uma vez
sinto renascer os pirilampos
daqueles tempos em que eu
nem existia.

Nelson Magalhães Filho, de A Cara do Fogo



Temos a honra de convidar a todos para participar de mais uma palestra integrante dos Seminários Interdisciplinares sobre o Livro e a Leitura
Desta vez, teremos a participação da profª Dalila Machado, com a explanação do fascinante tema sobre o Livro Rosa Mystica de Afrânio Peixoto.
Local: Cedic/Ba – Fundação Clemente Mariani
Quando: 05/09/07 às 15:00hs
Inscrições apenas por telefone: 3243-2491

segunda-feira, agosto 27, 2007

MÁRCIO LIMA

Veja mais fotografias do Márcio Lima no site Lucia Guanaes Photographies
http://www.luciaguanaes.com/
MAM recebe I Fórum de Artes Visuais da Bahia
Fonte: Ipac - ascom@ipac.ba.gov.br

A primeira edição do Fórum de Artes Visuais da Bahia será realizada entre os dias 31 de agosto e 02 de setembro, no Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM – Ba), vinculado ao Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (IPAC). O evento vai reunir artistas, pesquisadores, instituições e o público em geral com o objetivo fazer um diagnóstico das artes visuais no estado.
Na manhã de abertura, dia 31, autoridades e representantes da Associação de Artes Visuais do Estado da Bahia (AAV-Ba) e Associação de Artistas Modernos (ARPLAMB), que promovem o evento, farão apresentações sobre os desdobramentos do Fórum. A partir das 14h, grupos de trabalhos iniciarão discussões sobre o panorama das questões visuais na Bahia.
O Fórum será dividido em sete grupos: Linguagens Visuais e interdisciplinaridade, Ensino e aprendizagem da arte, Conservação e restauração, Mercado e Produção, História, crítica e curadoria, Políticas Públicas e Novas Tecnologias. Os mediadores de cada seção vão reunir os principais temas debatidos e uma plenária, que será realizada no dia 02 de setembro, vai eleger as questões mais relevantes para nortear, junto às autoridades estaduais e municipais, políticas públicas para a área.
Ainda na sexta-feira, como parte integrante do Fórum, será realizado I Encontro de Gestores: Perspectivas de cooperação inter-institucional. A iniciativa busca criar uma rede de cooperação entre as instituições baianas relacionadas à produção, circulação e difusão das artes visuais contemporâneas da Bahia. Entre as propostas, estão a criação o anuário de artes visuais, consolidação do corredor das Artes, apoio ao programa de residência para artistas da Secretaria de Cultura e indicação de exposição para circulação internacional.
No sábado, a programação será aberta por Lisette Lagnado, curadora-geral da 27ª Bienal de São Paulo, discutindo os processos curatoriais na arte contemporânea. As atividades seguem com os grupos de trabalhos e os debates sobre o cenário das artes visuais baianas.
No dia 02, o primeiro horário do Fórum será dedicado ao lançamento do Edital 14ª Salão da Bahia. No domingo, como proposto, será realizada a plenária final do encontro e redigido o documento que será entregue às entidades públicas, seguindo o objetivo central do Fórum de Artes Visuais da Bahia.
O encontro é co-realizado pelo MAM – Ba e conta com as parcerias da Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia, Universidade Salvador, Instituto Sacatar, Acbeu, Alliance Française e Goethe-Institut. As inscrições podem ser feitas no dia 31 de agosto, a partir das 9h, no MAM. O evento é gratuito.
A CARA DO FOGO

Em 1998, o Museu de Arte Contemporânea (de Feira de Santana - BA) publicou este pequeno livro de poemas. Foi o Volume 2 da Coleção Flor de Mandacaru, com coordenação editorial de Telma Siqueira Alves, arte e impressão de Edson Machado. Para quem não viu os arquivos antigos deste blog, estou postando de novo estes poemas.

ontem à noite, numa ânsia lunar,
comi algumas hortênsias, antes
de lançar-me em navios de vômitos.
a noite era desértica
e seus cabelos, longínquos.
na noite crisálida
os besouros não eram negros.

Nelson Magalhães Filho

quinta-feira, agosto 23, 2007

Foto: Márcio Lima

JORNAL DAS PAIXÕES

Qual a arte que vai decifrar o doce movimento
do meu olhar escorregando sobre teu peito
estrelário de paixões?
Cicatrizes cibernéticas
ou prontuário de yoga antigo
é possível entender tudo?
Maneirismos: você é meu inimigo e me ama
viciosamente
sem contradições ou movimentos
ou catástrofes.
É assim que Cruz das Almas doce
que um Gustave Moreau simbolizaria num Orfeu
misterioso
se transforma em um catálogo fantástico
por uma Rua das Flores entardecendo nos beijos
perfumosos das meninas do Pulo do Bode
nas invenções de cada beco
com seus frascos e fogos
longe de Itaparica e perto do mal.
Quem me dirá que as visões de William Blake
e José Salomão são gradações de hemorragias
incuráveis
em nossa mais antiga letargia?
Como viveremos daqui por diante?
Como os olhos de Hébe, onde é
Arcádia/antimatéria
onde as vistas de Hiroshigo nesta parede branca
basta olharmos para que as transmutações
do destino sincronizem com o não-destino,
a vida passa como um temporal fugaz
e nós inteiros, doídos de ver na quiromancia
que o tempo saqueou de nossas almas,
os leões e as andorinhas presas em lembranças.
Transilvânia, Recôncavo, onde são?
Ah, fruta-olor leio no Bagavad Gitâ o nascimento
e a morte: não é verdade que tenha havido
um tempo em que Eu não existia, nem esses
príncipes.
Hébe sente a lua prematura encravada
em sua nuca e a cidade não escutaria
a centelha de seus sussurros
nem a brisa refletida nas lâmpadas de mercúrio.
Farejamos isso, tricotamos nossas razões.
Traçar estas harmonias num espelho inítido
é coisa tão imprópria como tanger
os pássaros
além das campânulas de Asgard
além de todas as dores
as do dia e as da noite. O futuro é nossa festa?
Nas carnes meu amor ainda seria um cachorro
sem dono madrugadamente repelindo a tristeza
nas poças.

Nelson Magalhães Filho

quarta-feira, agosto 22, 2007

Foto: Márcio Lima

Depois que Galeno d'Avelírio
morreu
o pé de abacate que tinha
conformação
de extraordinário cessou.
O sapoti, o relógio antigo
desmoronou - maquinismo inocente -
das ressonâncias espirituais.
As flores e o forro
a casa nº522 na Praça da Matriz.
O pé de chuchu aniquilou-se
entre uma lâmina
de acaso
a cerejeira ou o Teorema
de Pasolini,
a erva de passarinho a possuiu,
carnalmente.
Hoje,
a poesia do visionário
persegue libélulas
que pousam em minhas armadilhas
coando a transparência
das manhãs de minha cidade.

Nelson Magalhães Filho
Hoje às 15 horas Encontro com os escritores:
RENATA BELMONTE
SIMONE GUERREIRO
MAYRANT GALLO
Inst. de Letras - UFBA (LABIMAGEM)
Coordenação: Sandro Ornellas

terça-feira, agosto 21, 2007

Foto: Márcio Lima

MARIELA

Mariela é a angústia
que nutre os oráculos
de meus acasos.
Brilha no ventanejado
entre poças
de estrelas.
Ambrosia sombria
dos oceanos
Mariela é a angústia
de um tempo morto
de parir harpas.
Mariela é o sangue
que não estanca o néctar
de mim.

Nelson Magalhães Filho

segunda-feira, agosto 20, 2007



MAM reabre com exposição "Smetak Imprevisto"
Data: 17/08/2007
Fonte: Ipac - ascom@ipac.ba.gov.br
O Museu de Arte Moderna (MAM) instalado no conjunto arquitetônico do Solar do Unhão às margens da Baía de Todos os Santos, em Salvador, um dos dez museus estaduais do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (Ipac), reabre as portas nesta segunda-feira, dia 20 de agosto, com a exposição “Smetak Imprevisto”, após um mês parcialmente fechado para reformas.
De acordo com o diretor geral do Ipac, arquiteto Frederico Mendonça, foram realizados no MAM serviços de pintura em paredes internas e externas, retelhamento de cômodos que apresentavam goteiras, impermeabilização e tratamento de infiltrações nas edificações. Na capela do século XVII foram restauradas janelas, portas, recuperado o reboco de paredes e aberta passagens da nave para a antiga sacristia. “Também substituímos o portão de acesso ao museu e, na área externa, realizamos podas nas árvores e checagem dos pontos de iluminação”, diz Mendonça. Já o Parque das Esculturas, localizado ao lado do museu, o diretor do IPAC explica que receberá intervenções específicas até o final do ano (2007) em função da dimensão das obras que já estão em fase final de processo de licitação pública.
Exposição
A exposição escolhida para a reabertura do MAM foi a “Smetak Imprevisto” que reúne cerca de 100 instrumentos musicais de autoria do músico Walter Smetak e fica em cartaz até 30 de setembro, aberta à visitação com entrada franca, de terça a domingo, sempre das 13h às 19h. O projeto foi selecionado pelo Edital 2006 do Natura Musical, que já contemplou 85 projetos desde 2005. “A exposição está montada em formato multimídia e interativo abordando vida e obra do músico, escultor, pesquisador, poeta e escritor Anton Walter Smetak”, informa Solange Farkas, atual diretora do MAM.
Essa homenagem se dá 23 anos após a morte e 50 anos depois da chegada do músico a Bahia, local onde desenvolveu uma teoria estático-musical própria. Nascido tchecoslovaco, nacionalizado suíço e radicado no Brasil, Smetak foi um alquimista dos sons, utilizando até utensílios do cotidiano para produzir música. “Smetak é uma referência para a música contemporânea brasileira, foi um artista e pesquisador que despertou a criatividade e criou novos conceitos para diversas gerações de músicos brasileiros”, ressalta Farkas.
O projeto da exposição contempla ainda a restauração, catalogação e digitalização do acervo material e imaterial do artista, composto por registros sonoros, livros, fotos e documentos, além da criação do site http://www.smetakimprevisto.com.br/ que entra no ar dia 20 e onde estão todas as informações. Nos dias subseqüentes à exposição (20.08) acontecem palestras com restauradores, curadores e pesquisadores dos trabalhos de Smetak. A exposição tem curadoria de Arto Lindsay e Jasmin Pinho, produção-executiva de Minom Pinho da produtora Casa Redonda de São Paulo, e projeto educativo da educadora musical Teca Alencar de Brito. O patrocínio é da Natura, com apoio institucional da secretaria de Cultura da Bahia (SECULT), através do IPAC e da Universidade Federal da Bahia, e apoio cultural do Ministério da Cultura.
Serviço
Exposição “Smetak Imprevisto” Local: MAM
Endereço: Avenida Contorno, s/nº - Solar do Unhão - Salvador, Bahia.
Informações: (71) 3117-6065 Datas: 21 de agosto a 30 de setembro
Dias e horários: de terça a domingo, das 13h às 19h, com entrada Franca
Realização: Casa Redonda Produções
Apoio institucional: UFBA (Universidade Federal da Bahia), SECULT,MAM, IPAC
Patrocínio: Natura
Foto: Márcio Lima

VÉSPERAS VIGIADAS

para Jane Zaidys

Fico olhando uns discos,
Bob Dylan, Ângela Ro Ro, Debussy
uma reprodução de Modigliani
os cachos de meus cabelos sorviam
a densidade pesada da tarde.
Como raiz de uma flor maldita, adquiri um
caduceu
que mantém minha vertigem
numa conjuntura extremamente perigosa
nem quando Béla Bartók vagueia
por Netuno um perfume incurável
açoita-me nesta tarde.
É aí que me perco nos labirintos
de Jeanne Hébuterne numa tragada
de piano. O sol pode baixar sua febre
e destrancá-la do mistério
antes que suas sete almas sejam sugadas
para sempre pelas estrelas e aí,
aí já será demasiada Jeanne Hébuterne
em silêncio
uma mensageira do meu inexistente
uma mágica sem retorno
porque a cidade agora é um vômito verde
versejado pelas ruas
e suas figuras sozinhas
sangradas em segredos também, para sempre,
revelados.

Nelson Magalhães Filho

sábado, agosto 18, 2007

Foto: Márcio Lima

cruz das almas city blues,
dilacerantemente escura
pela tarde fustigavam meus olhos a mesa
de jantar
a mesma mesa de flores esverdeadas
pela tua loucura
espreitando meigamente meus seios
inexplorados.
sua essência amar
ga como losna-maior
esta ampulheta mede uma fração de
artemísias...
ao lado do beliche furtivamente
A Lua e os animais, de Jorn
dilacerantemente escura
agitando inefável faca insetos ilimitados
que não acontecem habitualmente
na investigação do espanto.
tenho poder sobre os bichos da tarde.

Nelson Magalhães Filho
O PIOR INIMIGO

Simulas tua queda dentro de mim, com seu orgasmo de tintas e livros gastos, escombros de vértebras e chaves cegas. Preparas um último verso em meu desmaio. Há muito não sonho com teus fantasmas azuis, e no entanto em palavras mesquinhas teu enxame de cadáveres se apropria da miséria de meus dias. Já não sei como lidar com a eloquência de teus espelhos. Até onde esgotar o sangue dissimulado com que regas teus campos. Descarrilhas em tuas pernas todo o ritmo de quimeras que rege a existência. Moscas regurgitam o útero aceso de tuas máquinas. Ciclos vorazes da soberba. Lábios metálicos consumindo frascos de metáforas anômalas. O mundo a teus pés, as pás do silêncio, o pó das surpresas. Há muito não há mais cura ou motivo para estar aqui. Teimamos porque a noite não se vai, porque persiste um labirinto profundo e delicioso ou simplesmente porque não sabemos como apagar esta lâmpada aflita do desespero. O mundo não obedece a mais ordem alguma e quando um de nós toca seu fundo já não há mais princípio ou fim, nada que reconheça o mito da ressurreição. Tuas lágrimas são fulgores vãos. A indignação uma paisagem transtornada e exposta a um reflexo risível de sua comiseração. Antes que fôssemos estas ruínas azuis eu tanto sonhei contigo ao ponto de me confundir com tuas sobras. Caminhamos pelas cidades, rimos de tudo, nos sentimos alheios à indigência humana. Nada é conosco e até nos orgulhamos de nossa descendência suicida. Por que ainda insistes nisto? Eu nunca estive aqui.

poema & imagem: floriano martins
agosto de 2007

sexta-feira, agosto 17, 2007

Carlos Drummond de Andrade

31 de outubro de 1902 - 17 de agosto de 1987

quinta-feira, agosto 16, 2007

Nelson Magalhães Filho. ANJOS SOBRE O RECÔNCAVO, 1999, mista s/ tela, 110X105 cm

INVERNO

Debaixo da chuvarada
ele avança para casa
depois de cruzar a ponte (um céu verde escuro)
2 ou 3 casas ainda
na esquina ouvindo um finíssimo violino e
lembrar os anjos fatigados de Kerouac.
Chegando, contempla-se
estranhamente
num espelho com gramofone
junto a cama.

Nelson Magalhães Filho, em A Flor do Láudano, e também foi publicado pelo Claudio Willer em 1985 na sua coluna Inéditos do Jornal Leia.

quarta-feira, agosto 15, 2007


MARCELO NOVA E OS KOYOTES


Foto: Mariana Cardel


Assista ao vídeo:
Meu amigo Miguel Cordeiro é artista plástico e músico da Banda Os Koyotes, co-autor do clássico Sinca Chambord e autor da capa Duplo Sentido (Camisa de Vênus).
CLICA AQUI:
neste sábado
HOJE, às 15 h
Encontro com os escritores:
KÁTIA BORGES
LANDE ONAWALE
JOÃO FILHO
Instituto de Letras da UFBA
Coordenação: Sandro Ornellas
Nelson Magalhães Filho. ANJOS SOBRE O RECÔNCAVO II, 1999, mista s/ tela, 110X105 cm


Minha querida Patrizia,

prescindiremos de apresentações? A fronha
de meu travesseiro está rasgada e contém
sinais da saliva que escorria de minha boca.
Decerto, uma euforia absurda, à toa, por um triz
uma não-região de sonhos onde
a metamorfose transfigura o incêndio da agonia.
Não posso deixar mais sangrar de mim
porque dói. Nada de ficar reinventando
os panos, tanger os pássaros
do meu rosto, onde
não existe salvação, talvez nunca tenha existido.
De repente isto não é uma loucura.
As pedras absurdas, os paraísos
absurdos. Patrizia iriar-se
toda e a cabeleira nessa tarde engolida (ouço
de longe Beto Guedes com paisagem da janela!)
Eu vou ser eterno vestido de nada. Um beijo
irado, como ícone. Introspecção até o limite
contido no final de tudo. Posso tolerar
o pouso cínico dos pombos, a argila florescente
que modelamos nossas angústias.
Volto a medir o tempo desta música sinistra
comportada em mim
através do conteúdo
intranquilo do não-desejo, consumido.
O meu sonho não dura mais que nada.
Esgotou-se em mim toda a imensidão, todas as
ciladas do sumiço. Fatal estar vivo é. As coisas
rapidamente fazem-me despir abismos
para fora de minha própria ausência. Agora
é a hora do cristal.
Desculpe minha insígnia felina, indecente.
Não pouparei um relâmpago qualquer. Nossas
mentes desagregam-se em velocidades
satânicas. Você Patrizia, acredita
em céu-inferno? Tragos varando lado-a-lado
teu escuro hálito.
Tenho roubado demais o que há de mais
escondido atrás das janelas de tua alma-nua.
Sim, o espelho é uma anestesia de silêncios,
flores amarelas. Provarei teus demônios,
démarches necessárias para se esvaziar
depressa a desconfiança que as horas
nos jogam.
Puzzle, um punhado de obstinada
adivinhação. Contradições insólitas.
Estou desacostumado a não cozer as fomes.
Desatino, inquestionável apagar a superfície
de nossas ações? Uma desatada abertura
de veia no escuro,
o vício de pesadelos cada vez
semoventes, os subterrâneos ocultos.
Arranco estrelas, afogo-me nelas, deixo-me
à tona, arrasado, assemelho-me ao caos,
e saio violentamente desta
transparência macia,
náusea de gato...
É tão profundo amar você Patrizia, a grama
v... Sempre gostamos de viajar como um vidro:
íntima fundura sem causalidade alguma. Meu
espírito é uma nuvem, persigo ardosamente
o céu engravida-me, sou tão feliz.
É maravilhoso aquecer-me em teu
sorriso Patrizia
(orquídea grávida sem destino).
Ontem mesmo li nas pulsações de Clarice que
viver é uma espécie de loucura que a morte
faz.
Beijos,
teu Sinho.

Nelson Magalhães Filho

terça-feira, agosto 14, 2007

Nelson Magalhães Filho. ANJOS SOBRE O RECÔNCAVO I, 1999, mista s/ tela, 110X85 cm

Deixarei você em suas alucinações
trago uma lanterna
violeta na mão esquerda;
você, uma roseira repleta de
alguma coisa que se inflama violenta.
Estou aqui furtivamente
nesta casa de néctar
preso
nas paredes nos móveis:
seu corpo mente para
o meu desde
que vi sem volta
a dor retrato das horas.
Um perfume feroz corrói
nas tripas.
Teríamos então um instante para
desfazer perturbações, mas
meu beijo vem da flor do láudano.
Não quero você
nas explosões de bolhas brumas-
meus olhos abertos
cicatrizam suas bobagens
sem
fim.

Nelson Magalhães Filho

segunda-feira, agosto 13, 2007

Nelson Magalhães Filho. NOITES FELINAS II, 1999, mista s/ tela, 135X105 cm

você pensa que estou esperando
a ausência,
que não chega nunca
com as tarântulas acesas
nem nas vísceras mais escuras
que estupradas pelas brasas
da noite-erma
pudesse me deixar só
e pouco importa.
mas não é isso que me move para o mar
meu bem, pouco me importa
se a tesoura-vertida
amolada pela minha cara de cão
crava tua alma no espelho
aceso dentro mar.

Nelson Magalhães Filho



domingo, agosto 12, 2007

Nelson Magalhães Filho. NOITES DE PELÚCIA IV, 1999, mista s/ tela, 150X 110 cm

sábado, agosto 11, 2007

BASQUIAT (22 de dezembro de 1960 - 12 de agosto de 1988)

S/ título, 1984


Foto: Tseng Kwong


JACKSON POLLOCK (12 de janeiro de 1912 - 11 de agosto de 1956)

Foto: Hans Namuth

DAMA LUA, 1947

sexta-feira, agosto 10, 2007

Nelson Magalhães Filho. NOITES DE PELÚCIA III, 1999, mista s/ tela, 150X110 cm


lua negra diabólica da minha janela
roça tua pele insólita

de areia lambuzada tão soturna
com os morcegos
alheando-se de meu quarto

as feridas já são dentes crivados
no corpo
vejo gente navegando na cinzeza
das ruas
- gengivas rasgando a língua
língua colada boca-a-boca
as pessoas tão ocultas
em meu corpo lodoso das esperas roídas
lua negra diabólica da minha janela
roça tua pele insólita

não quero morder tua
boca queimando as neblinas
da vaguidão.

Nelson Magalhães filho

14 de agosto às 19 h
Palacete das Artes - Museu Rodin da Bahia



Arte e Mundo Contemporâneo
(Rio de Janeiro)
Curso com Fernando Cocchiarale
Duração: 14 aulas
A arte contemporânea não pode ser pensada, estudada e compreendida da mesma maneira do que a arte moderna. Se o modernismo circunscreveu a discussão da arte no campo especializado da forma, da cor e do espaço, a contemporaneidade suscita, inversamente, a recondução da questão da arte à outras esferas não artísticas como a política, o corpo, a sexualidade, a filosofia, a ética e demais interfaces estabelecidas pela produção cultural de nossos dias.
O curso pretende pois apresentar alguns temas e questões ligados não somente à esfera da produção artística, mas à vida contemporânea num sentido amplo e abrangente, única maneira de compreendermos o sentido e os caminhos que a arte hoje anuncia. Por meio da leitura de textos de autores seminais do pensamento filosófico e da teoria da arte das últimas décadas poderemos subsidiar a compreensão de conceitos tais como o de modernismo e pós-modernismo, de multiculturalismo e até mesmo daquilo que alguns autores chamaram de fim da arte.

Informações Gerais:
Período: De 3/09 a 3/12 de 2007
Dia e horário: 2ª feira – Das 17h às 19h
Valor: 3 parcelas de R$ 160,00
Desconto de 20% para alunos e funcionários da Estácio
Local: Casa das Artes da Universidade Estácio de Sá
Av Vitor Konder, 124- Barrinha – Barra da Tijuca
Tel para informações – 2495- 0552 ou 2495-5994
período 3 de setembro a 3 de dezembro de 2007
Inscrições on-line http://www.estacio.%20br/extensao
ou em qualquer campus da Universidade Estácio de Sá

Fábio Carvalho
CUBO BRANCO ação em arte © 2002/2006
FERNANDO OBERLAENDER
PROCESSO CONTÍNUO



quinta-feira, agosto 09, 2007

Nelson Magalhães Filho. NOITES DE PELÚCIA II, 1999, mista s/ tela, 150X110 cm



O incesto afogueia-me
quando crua afundas
no desejo. Retorces em mim
sabor incerto.
Estou girassol com náusea,
provo de meu rosto
oceanos
migalhas.
Nossas unhas arrancadas por monstros
por pastores
nas entranhas do bosque.
Carrega-te o impreciso sinal da morte!
Rezo tragando flores
num vômito de sêmen,
empurro com a brutalidade das cicatrizes
as negras portas do céu em vísceras
não me deixes, não me deixes...

Nelson Magalhães Filho

quarta-feira, agosto 08, 2007

Nelson Magalhães Filho. NOITES DE PELÚCIA III, 1999, mista s/ tela, 150X110 cm

Chegam as tempestades!
Badalos-latidos
dentro da madrugada saturada.
Estrangulei borboletas após espreita
feito gato cujo olhos movem negras
transparências
e minha sombra
entre salamandra-gonzos.
Chegam as tempestades! Dilaceração da alma.
O relógio submerso na memória
verte a carne, as horas vergadas, o leite
do ventre ao chão.
Veludo negro entre
as coxas
e um jorro inundando meu caralho.
Você assim:
quadris quentes
répteis sedosos de sangue
até o gemido.
Uma lenda de sereias que fodem,
e não dormem.

Nelson Magalhães Filho


terça-feira, agosto 07, 2007

GALERIA CAÑIZARES

De 8 a 31 de agosto
Vernissage dia 8 às 19 horas
Galeria Cañizares
Escola de Belas Artes
Av. Araújo Pinho, 212, Canela, Salvador, BA

CURSO DE CERÂMICA

Professores:
Adriana Araújo
Marcelo Moreira
Coordenador:
Onias Camardelli
10 de agosto - 14 de dezembro
ESCOLA DE BELAS ARTES da UFBA
Informações:
ceramica_eba@hotmail.com
MELODIAS DE AGOSTO


Assista ao vídeo

CLICA AQUI:
http://www.youtube.com/watch?v=kBhbFU9Hnrc (parte I)

http://www.youtube.com/watch?v=H6rFKmoy1J8 (parte II)

segunda-feira, agosto 06, 2007

Nelson Magalhães Filho. NOITES FELINAS I, 1999, mista s/ tela, 135X105 cm

arrancado
com as unhas do telhado,
o creme de mamão
que Rebeca morria
a cada noite,
como uma mariposa negra.

Nelson Magalhães Filho
FOTOPINTURA Galeria ACBEU
Até 25 de agosto



GEOMETRIA DAS CORES
HERMÍNIO SOUZA

Panorama Galeria de Arte
Rua Nelson Gallo, 19 - Rio Vermelho - Salvador - BA
Visitação até 16 de agosto

sexta-feira, agosto 03, 2007

REFÚGIO PRONUNCIADO

Acompanho a vigência da chama
ondulando a paisagem de teu corpo.
Para cada ângulo de meu olhar
tens um extravio pronto, um alvo
a insinuar-se lento enquanto me lês
por trás de arbustos e restos de luz.
De onde me vês mil símbolos buliçosos
se agitam despindo abismos e órbitas:
seios que soluçam correnteza abaixo,
letras úmidas do barro em que modelas
teu arcanjo rebelado em meu ventre.
Desata-me na medida de teus dons.
A todo instante erramos as páginas,
braços e pedras, dessa casa invisível.

poema & imagem: floriano martins
agosto de 2007

quinta-feira, agosto 02, 2007

Nelson Magalhães Filho. NOITES FELINAS III, 1999, mista s/ tela, 135X105 cm

quarta-feira, agosto 01, 2007

Lançamento do livro Trabalhos do Corpo, de Sandro Ornellas

CLICA AQUI: http://simuladordevoo.blogspot.com/