Teu cheiro amarfanho durante toda a cidade
e nos dentes postos sobre a mesa
como um escapulário tua lascívia eu pressinto.
Nem a lua nem teus olhos certamente me salvarão deste teu cheiro espesso.
Eu cresci nestas estranhas paragens sem estrelas entre bichos e flores
como se não fossem cobertos pela escuridão.
Apenas arfava um golpe entre o vazio de mim
e a captura de insetos do inferno em teus cabelos.
Em inquietude, me preparo para a dor.

Nelson Magalhães Filho


"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos

do mundo."
( Fernando Pessoa: Tabacaria)




Realizar trabalhos de arte a base das experiências existenciais, como transpor as imensidões dolorosas das noites urinadas. Fingir figuras concebidas do desejo e da amargura. Instigações obscurecidas pela lua. Não acretido na pintura agradável. Há algum tempo meu trabalho é como um lugar em que não se pode viver. Uma pintura inóspita e ao mesmo tempo infectada de frinchas para deixar passar as forças e os ratos. Cada vez mais ermo, vou minando a mesma terra carregada de rastros e indícios ásperos dentro de mim, para que as imagens sejam vislumbradas não apenas como um invólucro remoto de tristezas, mas também como excrementos de nosso tempo. Voltar a ser criança ou para um hospital psiquiátrico, tanto faz se meu estômago dói. Ainda não matem os porcos. A pintura precisa estar escarpada no ponto mais afastado desse curral sinistro.
Nelson Magalhães Filho

terça-feira, fevereiro 20, 2018

Nelson Magalhães Filho. Página do Diário do Artista, 2004, mista sobre papel, 15X21 cm


esse coração-carniça aceso de presa
na madrugada provisória
porque hoje a noite é triste farejando
nossos ossos efêmeros.
beijo-sujo de desalento
lua de seda em cima de mim
no tempo em que amanhecer não era cinza
engastam os céus em má-hora: um anjo
sobrevoando a cidade apodrecida pelos ratos,
então enjoo com o fim do dia
pelas atrocidades da manhã.

Nelson Magalhães Filho


CINECLUBE MÁRIO GUSMÃO


De 06 a 09 de março, nós do Cineclube Mário Gusmão realizaremos a Mostra Performance Negra, no Cineteatro Cachoeirano. Artistas como Grande Otelo, Léa Garcia, Mário Gusmão, Ruth de Souza, Zezé Motta e Zózimo Bulbul compõem o elenco da Mostra, que pretende lançar olhar sobre a presença dos atores e atrizes negras nos filmes, bem como pensar suas trajetórias, para interpretar e reexaminar a cinematografia brasileira.

Compõe a curadoria da Mostra Performance Negra um curto apanhado de filmes que vai do fim dos anos 50 ao começo dos anos 2000, perpassando diferentes momentos do Cinema Brasileiro e distintas formas de abordar e entender a questão racial no país. 

Exibiremos sete filmes, em cinco sessões seguidas de debate. A programação conta ainda com uma oficina intitulada A imagem como espaço cênico, que será ministrada pelas atrizes Arlete Dias e Valdinéia Soriano, integrantes do Bando de Teatro Olodum. As inscrições podem ser feitas através do link:  https://goo.gl/dFFLDM


Programação*:
06 de março, 19 horas: “O Menino e o Velho”, dirigido por Miguel Silveira, e “Rio Zona Norte”, dirigido por Nelson Pereira | Pocket show de Luedj Luna
07 de março, 14 horas: “Anjo Negro”, dirigido por José Humberto | Roda de conversa: Rastros, Ecos e Movimentos de Mário Gusmão, com Clyde Morgan (professor/dançarino), profa. Cyntia Nogueira (UFRB), Laís Morgan (dançarina) e Miguel Silveira (cineasta);
07 de março, 19 horas: “Compasso de Espera”, dirigido por Antunes Filho | Debate com: prof. Osmundo Pinho (UFRB) e Valdir Alves (antropólogo), com mediação da profa. Izabel Fátima Cruz (UNEB);
08 de março, 19 horas: “Xica da Silva”, dirigido por Cacá Diegues | Debate com profa. Ângela Figueiredo (UFRB) e Valdineia Soriano (atriz);
09 de março, 19 horas: “O Dia de Jerusa”, dirigido por Viviane Ferreira, e “As Filhas do Vento”, de Joel Zito Araújo | Conferência de encerramento com Viviane Ferreira.
*Todas as sessões acontecerão no Cineteatro Cachoeirano