Teu cheiro amarfanho durante toda a cidade
e nos dentes postos sobre a mesa
como um escapulário tua lascívia eu pressinto.
Nem a lua nem teus olhos certamente me salvarão deste teu cheiro espesso.
Eu cresci nestas estranhas paragens sem estrelas entre bichos e flores
como se não fossem cobertos pela escuridão.
Apenas arfava um golpe entre o vazio de mim
e a captura de insetos do inferno em teus cabelos.
Em inquietude, me preparo para a dor.

Nelson Magalhães Filho


"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos

do mundo."
( Fernando Pessoa: Tabacaria)




Realizar trabalhos de arte a base das experiências existenciais, como transpor as imensidões dolorosas das noites urinadas. Fingir figuras concebidas do desejo e da amargura. Instigações obscurecidas pela lua. Não acretido na pintura agradável. Há algum tempo meu trabalho é como um lugar em que não se pode viver. Uma pintura inóspita e ao mesmo tempo infectada de frinchas para deixar passar as forças e os ratos. Cada vez mais ermo, vou minando a mesma terra carregada de rastros e indícios ásperos dentro de mim, para que as imagens sejam vislumbradas não apenas como um invólucro remoto de tristezas, mas também como excrementos de nosso tempo. Voltar a ser criança ou para um hospital psiquiátrico, tanto faz se meu estômago dói. Ainda não matem os porcos. A pintura precisa estar escarpada no ponto mais afastado desse curral sinistro.
Nelson Magalhães Filho

segunda-feira, dezembro 22, 2008

Nelson Magalhães Filho. O VOO, técnica mista s/papel, 10X20 cm, 1981

a natureza íntima de tuas asas turbulentas
é mais luzidia que o luzeiro
de mil olhos em coro,
por um alguém que partiu sem paixão.
coração turbulento, anjo da guarda...
o denso anoitecer de tua vaga lembrança
craveja outras sangrias, faz derramar o devaneio
e acende a profunda entrada de meus olhos.

Nelson Magalhães Filho, em As Luminárias (1982)

sábado, dezembro 20, 2008

CORAÇÃO DESERTO



Companhia dos Anjos Baldios
apresenta
Carlos Osvaldo Ferreira ( o Badinho) em
CORAÇÃO DESERTO
Um vídeo de Luciano Fraga e Nelson Magalhães Filho
Um homem em crise passa uma noite embaixo de uma ponte esperando um trem para seus sonhos.
Baseado no poema de
Luciano Fraga
Música original e interpretação: Marcão
Duração: 4:55 min
Cruz das Almas, Ba. - 2006
Direção e imagens:
Nelson Magalhães Filho

sexta-feira, dezembro 19, 2008

EFRAIM MEDINA REYES

SONHEI QUE TRANSAVA COM A SYLVIA PLATH
Arranha-céus que caminham pela superfície da água como profetas tardios. Homenzinhos cheios de comprimidos que caem das altas janelas dos seus sonhos até os bueiros e ralos do homem branco. Vampiros que chupam ânsia nas privadas públicas. Escolares assassinos e todas as coisas que nunca aparecem nos postais. No meio do trânsito sou alguém que aprendeu a voar, poderia assombrar magos e xamãs. Prefiro mergulhar no bosque da noite, saltar ao céu, com todos esses truques que jamais usei.

Efraim Medina Reyes

Do livro de poemas Pistoleiros/Putas e Dementes,2006, Ed. Garamond, RJ,
Tradução de Maria Alzira Brum Lemos
livro, disco e filme para este fim de semana





quinta-feira, dezembro 18, 2008

Nelson Magalhães Filho. ANJOS SOBRE O RECÔNCAVO 2008, acrílica s/tela, 70X50 cm

Ames a derrota como se fosse o triunfo e aceites o triunfo como se fosse a derrota. É preciso ser derrotado. É preciso ser ridículo: é preciso ser o mais ridículo que se possa, beirando à imbecilidade. É preciso que os outros passem e digam, com superioridade, pena raivosa, indiferença: néscio. Idiota. Abobalhado. Caprichosamente babaca. Extremamente necessário é que essa idiotia seja acompanhada de um sentimento nobre de orgulho. O orgulho de ser um imbecil completo. Imbecil com preciosismo. Débil com cinismo. Abestalhado com precisão.

É preciso que se ponha a nu em público, como nos sonhos de alguns. Não como o rei que está nu e pensa que está luxuosamente vestido, mas como o mendigo, o louco, o vagabundo que sabe que está nu, nu e com pompas – luxuosamente nu. É preciso ainda ser gozado, que os outros passem e sussurrem, e comentem e urrem, que sua existência é um atentado ao pudor. Um atentado à academia, ao legado da civilização, ao senso comum, à norma, à moda, às condições normais de temperatura e pressão, às top models, à cultura, à associação brasileira de normas técnicas.

É preciso fazer do defeito escancarado, do erro, do desacerto, a razão própria e alento único do existir. É preciso que o superego durma babando e roncando no mijo da calcada pública, mas é preciso ter uma grande alegria eriçando cada pelo e uma grande bondade habitando em cada poro.

E é absolutamente preciso que chova então, e que se chore, caso haja o desejo. Ou é preciso uma enorme gargalhada para abafar as buzinas do trânsito. É preciso que tudo – absolutamente tudo – esteja inundado na imprecisão. E que se durma dois dias seguidos e que se acorde sem saber em que dia da semana estamos, nem do mês, nem em que mês estamos. E é ainda preciso esquecer a idade que se tem, precisando refazer as contas a partir do fatídico ano do nascimento. É preciso fazer aniversários e se esquecer, mas com uma dignidade senhora de ser um ser humano atemporal.

Então, úmidos, frágeis, recobertos de sangue como fetos letrados, é preciso sentir o primeiro frio do nascimento. O choro não é preciso. É preciso estar recém nascido a cada segundo, e ser o filho bastardo do mundo, rejeitado, enjeitado, manco, aleijado, deformado, congenitamente inviável. E, então, aí é preciso amamentar-se com muito deleite, mansidão e calma... e multiplicar gestos amorosos e primeiros sorrisinhos sobre os nossos carrascos.

Marília Palmeira

(Marília é estudante de Artes Visuais na EBA/Ufba)
ontem nos 131 anos da escola de belas artes

meu filho Arthur Magalhães também marcou presença



NMF, Eduardo, Jani, Jaci, Paulo Guinho, Graça, Adriano, Bené e Lico


Bené Santana, NMF, Jaci Mattos, Adriano Castro, Graça Ramos, Paulo Guinho e Eduardo Góes


Eduardo, NMF, Jaci, Graça, Paulo Guinho e Adriano


Série FERIDAS 2008

FERIDAS E CICATRIZES - Catálogo da exposição


ADRIANO CASTRO
Composição - Construção 2
Linoleogravura, 2008

BENÉ SANTANA
Prisioneiros do Inconsciente
Mista s/tapumes, 2008


DEVARNIER HEMBADOOM
A proliferação da ferida da ingratidão não toca Joana, ela não esquece Eduardo Thadeus...
Mista s/tela, 2008



EDUARDO GÓES
Desvios
Instalação (detalhe da pintura em óleo s/tela), 2008



EVANDRO SYBINE
Da suíte imagens do arruinamento I
Xilogravura, 198X144 cm - 2008



GRAÇA RAMOS
Série O Homem e a cidade
Mista s/tela, 2008


JACI MATTOS
Quelóide
Assemblagem, 2008


JANETE KISLANSKY
Devastação
Mista, 50X110 cm - 2008


JANI SAÜLT
O homem encurralado (detalhe da obra Achados I)
Palett e cabeça em gesso, mista, 100X110 cm - 2008


LICO SANTANA
Ancestral
Madeira, metal e aço-carbono, 2008


LUIS AGUILAR
La liberación del Principe Colibri
Acrílica s/tela, 199X145 cm - 2008


NELSON MAGALHÃES FILHO
Feridas 2008
Acrílica s/ tela, 70X50 cm


PAULO GUINHO
Cicatriz Pulmão
Impressão serigráfica e digital s/radiografia, 29X40 cm - 2008


RICARDO GUIMARÃES
Lembranças
Mista, 2008


Curadoria: Graça Ramos
Fotografias: Erivan Morais
Designer gráfico: Erivelton
Revisão de texto: Jaci dos Santos
EBA/UFBA
Vaga Lumes

Capa e ilustrações: RUELA

quarta-feira, dezembro 17, 2008

hoje na escola de belas artes/ufba


Jani Saült. O HOMEM ENCURRALADO, 2008, palett e cabeça de gesso.

Alunos na Escola de Belas Artes da UFBa.

terça-feira, dezembro 16, 2008

Nelson Magalhães Filho. ANJOS SOBRE O RECÔNCAVO 2008, acrílica s/tela, 100X90 cm

Realizar trabalhos de arte a base das experiências existenciais, como transpor as imensidões dolorosas das noites urinadas. Fingir figuras concebidas do desejo e da amargura. Instigações obscurecidas pela lua. Não acredito na pintura agradável. Há algum tempo meu trabalho é como um lugar em que não se pode viver. Uma pintura inóspita e ao mesmo tempo infectada de frinchas para deixar passar as forças e os ratos. Cada vez mais ermo, vou minando a mesma terra carregada de rastros e indícios ásperos dentro de mim, para que as imagens sejam vislumbradas não apenas como um invólucro remoto de tristezas, mas também como excrementos de nosso tempo. Voltar a ser criança ou para um hospital psiquiátrico, tanto faz se meu estômago dói. Ainda não matem os porcos. A pintura precisa estar escarpada no ponto mais afastado desse curral sinistro.

Nelson Magalhães Filho
nesta quarta-feira dia 17 na escola de belas artes
FERIDAS E CICATRIZES



Nelson Magalhães Filho. FERIDAS 1, acrílica s/tela, 70X50 cm - 2008

Nelson Magalhães Filho. FERIDAS 2, acrílica s/tela, 70X50 cm - 2008

Programa de Pós-graduação em Artes Visuais da Universidade Federal da Bahia
Disciplina: Teoria e Técnica de Processos Criativos
Professora Dra. Graça Ramos

domingo, dezembro 14, 2008

a arte de suzart


Quando muitos dizem que a pintura morreu, eis que vemos um artista em pleno domínio de um estilo vigoroso e uma técnica primorosa. Herdando as lições das mais diversas correntes da Arte Informal e do Surrealismo, Suzart consegue mesclar de forma surpreendente estas influências com os mais radicais movimentos do pós-modernismo, e ainda sem perder jamais suas raízes africanas do Recôncavo Baiano. Suzart já ganhou um Grande Prêmio da Bienal do Recôncavo, tendo realizado diversas exposições na Alemanha e nos Estados Unidos, com uma temática que supera o mero regionalismo para nos presentear com uma pintura maravilhosa e antenada com nosso mundo contemporâneo.

(Nelson Magalhães Filho)


VEJA MAIS AQUI:
http://www.artsuzart.blogspot.com/

Feridas e Cicatrizes
vernissage nesta quarta dia 17 na escola de belas artes da ufba



Programa de Pós-graduação em Artes Visuais da Universidade Federal da Bahia
Disciplina: Teoria e Técnica de Processos Criativos
Professora Dra. Graça Ramos

sexta-feira, dezembro 05, 2008

CACHORRO RABUGENTO MORTO EM NOITE CHUVOSA


Um vídeo-poema de Nelson Magalhães Filho
Com Priscila Pimentel
Direção de arte, fotografia de cena, maquiagem e figurino: Karla Rúbia
Música: Banda Inominável
Poema, imagens, edição e direção de Nelson Magalhães Filho
Duração: 5 min
Salvador -Ba- 2008



Fotos: Karla Rúbia

quarta-feira, dezembro 03, 2008

CLICA AQUI:
http://www.leiturasdramaticas.blogspot.com/




banda anacê:imperdível neste sábado em cruz das almas