Teu cheiro amarfanho durante toda a cidade
e nos dentes postos sobre a mesa
como um escapulário tua lascívia eu pressinto.
Nem a lua nem teus olhos certamente me salvarão deste teu cheiro espesso.
Eu cresci nestas estranhas paragens sem estrelas entre bichos e flores
como se não fossem cobertos pela escuridão.
Apenas arfava um golpe entre o vazio de mim
e a captura de insetos do inferno em teus cabelos.
Em inquietude, me preparo para a dor.

Nelson Magalhães Filho


"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos

do mundo."
( Fernando Pessoa: Tabacaria)




Realizar trabalhos de arte a base das experiências existenciais, como transpor as imensidões dolorosas das noites urinadas. Fingir figuras concebidas do desejo e da amargura. Instigações obscurecidas pela lua. Não acretido na pintura agradável. Há algum tempo meu trabalho é como um lugar em que não se pode viver. Uma pintura inóspita e ao mesmo tempo infectada de frinchas para deixar passar as forças e os ratos. Cada vez mais ermo, vou minando a mesma terra carregada de rastros e indícios ásperos dentro de mim, para que as imagens sejam vislumbradas não apenas como um invólucro remoto de tristezas, mas também como excrementos de nosso tempo. Voltar a ser criança ou para um hospital psiquiátrico, tanto faz se meu estômago dói. Ainda não matem os porcos. A pintura precisa estar escarpada no ponto mais afastado desse curral sinistro.
Nelson Magalhães Filho

sexta-feira, junho 27, 2008

Nelson Magalhães Filho. MULHERES, mista s/papel, 70X50 cm
ígneos devaneios quando de vespa meus olhos cuspirem teus segredosbrisas agônicas mesmo que no pernoite das aves possam expelir tuas jurasquando você não mais me amarprofetizam a aterrizagem das perdas sem que haja tais véus a encobrir, quando meus olhos os teus roerem. ígneos devaneios quando de vespa meus olhos cuspirem teus segredos, brisas agônicas mesmo que no pernoite das aves possam expelir tuas juras, (quando você não mais me amar) profetizam a aterrizagem das perdas sem que haja tais véus a encobrir, quando meus olhos os teus roerem.

Nelson Magalhães Filho

5 comentários:

Lord of Erewhon disse...

Belo concretismo em movimento! Você fará um excelente rival de nosso artista Ruela.

Um estreito abraço.
Viva a lusofonia!

Ruela disse...

Belo.

Tudo bem na Trienal ;)


convido-o a participar neste blogue: http://novaaguia.blogspot.com/

é só
enviar um mail para: adesao@movimentolusofono.org
Indicar: nome, e-mail e área de residência.
Em seguida recebe o convite e pode começar a publicar os seus poemas.

Abraço.

Kátia disse...

Lindo! Gosto das tintas fortes com que escreves e também dos tons que empregas em seus quadros.Perfeito,um baiano em seu melhor!

Me orgulho por isso!!!

Kátia disse...

Ah..eu volto e dá-me cócegas se não comentar...como fez as letras "dançarem" assim? Impressionante!
E esse texto me capturou!

Kátia disse...

E essa tela é a segunda minha preferida.O texto é mesmo maravilhoso,li umas 3 vezes...
Obrigada!