Teu cheiro amarfanho durante toda a cidade
e nos dentes postos sobre a mesa
como um escapulário tua lascívia eu pressinto.
Nem a lua nem teus olhos certamente me salvarão deste teu cheiro espesso.
Eu cresci nestas estranhas paragens sem estrelas entre bichos e flores
como se não fossem cobertos pela escuridão.
Apenas arfava um golpe entre o vazio de mim
e a captura de insetos do inferno em teus cabelos.
Em inquietude, me preparo para a dor.

Nelson Magalhães Filho


"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos

do mundo."
( Fernando Pessoa: Tabacaria)




Realizar trabalhos de arte a base das experiências existenciais, como transpor as imensidões dolorosas das noites urinadas. Fingir figuras concebidas do desejo e da amargura. Instigações obscurecidas pela lua. Não acretido na pintura agradável. Há algum tempo meu trabalho é como um lugar em que não se pode viver. Uma pintura inóspita e ao mesmo tempo infectada de frinchas para deixar passar as forças e os ratos. Cada vez mais ermo, vou minando a mesma terra carregada de rastros e indícios ásperos dentro de mim, para que as imagens sejam vislumbradas não apenas como um invólucro remoto de tristezas, mas também como excrementos de nosso tempo. Voltar a ser criança ou para um hospital psiquiátrico, tanto faz se meu estômago dói. Ainda não matem os porcos. A pintura precisa estar escarpada no ponto mais afastado desse curral sinistro.
Nelson Magalhães Filho

domingo, setembro 21, 2008

Nelson Magalhães Filho. ANJOS BALDIOS 2008, acrílica s/tela, 70X50 cm

É só mais uma noite.
Entre espasmos lastimosos
esvaecem resíduos de tédio.
Não há mais liames
entre coisas submersas apenas sobras,
memórias e perdas.
Estamos longe,
ainda solto pedaços de nervos
gelados pelas estradas.

Nelson Magalhães Filho

8 comentários:

Luciano Fraga disse...

Buenas,a cada noite estranha que vencemos deixamos os cacos, as lascas de nós, poesia poderosa, abraço.

Ruela disse...

Um dos melhores que li aqui.

Gostei,

Abraço Nelson.

Victor Paes disse...

Fala, Nelson! Interessante o Anjo Baldio! Abração... Victor Paes.

Anônimo disse...

bom. gostei.

Samantha Abreu disse...

Oi, Nelson!
hoje eu solto pedaços de nervos...
e resíduos (tristes) de tédio.

Suas telas e seus textos... como sempre bons demais!

Parabéns!
Um beiJO

fao Carreira disse...

solto pedaços de nervos
gelados pelas estradas.


sua poesia é de uma força absurda.....abraço

Anônimo disse...

tuas pinturas, tuas imagens, tuas palavras.. aqui tudo é intenso demais.
adorei.
;*

Álvaro Andrade disse...

Muito bom. Esse final dá frio!