Teu cheiro amarfanho durante toda a cidade
e nos dentes postos sobre a mesa
como um escapulário tua lascívia eu pressinto.
Nem a lua nem teus olhos certamente me salvarão deste teu cheiro espesso.
Eu cresci nestas estranhas paragens sem estrelas entre bichos e flores
como se não fossem cobertos pela escuridão.
Apenas arfava um golpe entre o vazio de mim
e a captura de insetos do inferno em teus cabelos.
Em inquietude, me preparo para a dor.

Nelson Magalhães Filho


"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos

do mundo."
( Fernando Pessoa: Tabacaria)




Realizar trabalhos de arte a base das experiências existenciais, como transpor as imensidões dolorosas das noites urinadas. Fingir figuras concebidas do desejo e da amargura. Instigações obscurecidas pela lua. Não acretido na pintura agradável. Há algum tempo meu trabalho é como um lugar em que não se pode viver. Uma pintura inóspita e ao mesmo tempo infectada de frinchas para deixar passar as forças e os ratos. Cada vez mais ermo, vou minando a mesma terra carregada de rastros e indícios ásperos dentro de mim, para que as imagens sejam vislumbradas não apenas como um invólucro remoto de tristezas, mas também como excrementos de nosso tempo. Voltar a ser criança ou para um hospital psiquiátrico, tanto faz se meu estômago dói. Ainda não matem os porcos. A pintura precisa estar escarpada no ponto mais afastado desse curral sinistro.
Nelson Magalhães Filho

sexta-feira, dezembro 18, 2009

Nelson Magalhães Filho. Pintura digital, a partir da fotografia de Karla Rúbia


Conceber uma paixão viscosa já em degredo
nas horas vagarosas de lamentações ameaçadoras:
em tempos como estes nos oceanos-disformes,
esgotando o sangue impudico: estamos
tristes e a luz tênue do quarto vai perdendo-se em teus olhos:
expiraremos quando os animais farejam pela janela
a bela deslembrada melancolia,
um rubor tragado da aurora translúcida
que chora esvaída, e seus nadas te esmagam ainda
quando dissipo-me nas coisas que te bastam
nesta madrugada de ânsias desprezíveis,
ofegante noite recolhida parindo cães negros:
um broto embebedado é o que resta preso na carne sem pudor
sugando indizível a expiação.

Nelson Magalhães Filho

3 comentários:

Braga e Poesia disse...

um momento onde a saudade e a melancolia se juntam e não destrói o nada antes delimitam nesta memória uma beleza fraca e persistente.

Braga e Poesia disse...

R
VICENTE.


Segunda feira um choro encheu o ar quente de salvador, a praia sorrindo apressou o seu ir e vim e assolou ondas nas alegrias de vicente, o novo ser a acalentar energias por este mundo agora todo sorriso.
Um homem de cores fortes fortemente segurava o peito que louco queria explodir.
As tintas quentes e frias descansavam em telas futuras e nelson sorria vicente em dias e dias por vim, nelson sorria vicente no filho e na filha ali a chorar e a sorrir, em uma sincera torrente de emoções, todos cantavam o silencio no sono do menino.
Vicente como o outro, magalhães e sá na mistura do amor que um dia enfrentou injurias e amorosamente perdurou e persistiu e a vitoria deles não foi a derrota de ninguem, apenas a vitoria do desejo de um amor que brotou, cresceu e hoje em vicente marca um novo tempo CONTINUADO.
Os quadros na parede retrata um intimo em total desalinho com o mundo contemporaneo, mas ao mesmo é a vida que dos quadros arrebenta qualquer duvida ou medo.
O pintor agora se permite sorrir em telaS BRANCAS E A ESPERA DO PRIMEIRO BANHO, O ARTISTA canta suas cores em beijos e apertos de um coração que agora tambem menino já não cabe em si de felicidade.
RONALDO BRAGA

Luciano Fraga disse...

Buenas,uma perigrinação por corredores e purgatórios para enfim expiar toda melancolia, bravo! Abraço.