Teu cheiro amarfanho durante toda a cidade
e nos dentes postos sobre a mesa
como um escapulário tua lascívia eu pressinto.
Nem a lua nem teus olhos certamente me salvarão deste teu cheiro espesso.
Eu cresci nestas estranhas paragens sem estrelas entre bichos e flores
como se não fossem cobertos pela escuridão.
Apenas arfava um golpe entre o vazio de mim
e a captura de insetos do inferno em teus cabelos.
Em inquietude, me preparo para a dor.

Nelson Magalhães Filho


"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos

do mundo."
( Fernando Pessoa: Tabacaria)




Realizar trabalhos de arte a base das experiências existenciais, como transpor as imensidões dolorosas das noites urinadas. Fingir figuras concebidas do desejo e da amargura. Instigações obscurecidas pela lua. Não acretido na pintura agradável. Há algum tempo meu trabalho é como um lugar em que não se pode viver. Uma pintura inóspita e ao mesmo tempo infectada de frinchas para deixar passar as forças e os ratos. Cada vez mais ermo, vou minando a mesma terra carregada de rastros e indícios ásperos dentro de mim, para que as imagens sejam vislumbradas não apenas como um invólucro remoto de tristezas, mas também como excrementos de nosso tempo. Voltar a ser criança ou para um hospital psiquiátrico, tanto faz se meu estômago dói. Ainda não matem os porcos. A pintura precisa estar escarpada no ponto mais afastado desse curral sinistro.
Nelson Magalhães Filho

quarta-feira, abril 08, 2015


Fernando Coni Campos, em 1983, fez como magia que se multiplicassem os alimentos da feira cachoeirana.
O mágico Dom Velasquez e sua partner Paloma, ao se depararem com a escassez de alimentos que aquela população enfrentava, decidiram usar de seu ilusionismo para proporcionar alguns minutos de lúdica alegria àquele povo. Infelizmente, a magia não perdurou; a população frustrada se revoltara, e o delegado, que antes já havia imposto uma pré-censura ao show de Dom Velasquez para acontecer no Cinetheatro (sim, o de Cachoeira), o pusera atrás das grades.
Fernando Coni Campos é diretor baiano. O Mágico e o Delegado, seu último longa metragem, teve suas cenas gravadas nas ruas de Cachoeira em plena década de oitenta e também em Castro Alves, sua cidade natal. E é aqui, do recôncavo, que nós do Cineclube Mário Gusmão, convidamos você para a exibição do filme que encerra a mostra Fernando Coni Campos.
Quarta feira, 08/04, às 19hrs no auditório do CAHL. Entrada gratuita.

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