Teu cheiro amarfanho durante toda a cidade
e nos dentes postos sobre a mesa
como um escapulário tua lascívia eu pressinto.
Nem a lua nem teus olhos certamente me salvarão deste teu cheiro espesso.
Eu cresci nestas estranhas paragens sem estrelas entre bichos e flores
como se não fossem cobertos pela escuridão.
Apenas arfava um golpe entre o vazio de mim
e a captura de insetos do inferno em teus cabelos.
Em inquietude, me preparo para a dor.

Nelson Magalhães Filho


"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos

do mundo."
( Fernando Pessoa: Tabacaria)




Realizar trabalhos de arte a base das experiências existenciais, como transpor as imensidões dolorosas das noites urinadas. Fingir figuras concebidas do desejo e da amargura. Instigações obscurecidas pela lua. Não acretido na pintura agradável. Há algum tempo meu trabalho é como um lugar em que não se pode viver. Uma pintura inóspita e ao mesmo tempo infectada de frinchas para deixar passar as forças e os ratos. Cada vez mais ermo, vou minando a mesma terra carregada de rastros e indícios ásperos dentro de mim, para que as imagens sejam vislumbradas não apenas como um invólucro remoto de tristezas, mas também como excrementos de nosso tempo. Voltar a ser criança ou para um hospital psiquiátrico, tanto faz se meu estômago dói. Ainda não matem os porcos. A pintura precisa estar escarpada no ponto mais afastado desse curral sinistro.
Nelson Magalhães Filho

terça-feira, outubro 22, 2019

Nesta quinta-feira dia 24 de outubro 
às 20 horas 
Casa da Cultura Galeno d'Avelírio - Cruz das Almas - BA


CARTAS PARA INÊZ
Curta metragem experimental – 24’ 38’’
Cruz das Almas – BA – 2019

Um filme de Nelson Magalhães Filho

Fotografia e câmera: Jheffeson Jhehsom & Nelson Magalhães filho

Produção: Luciano Fraga

Depois de muitos anos de ausência, Inêz volta para sua antiga casa agora em ruínas.  Um passado sombrio vem à tona.

Com Graça de Sena


CARTAS PARA INÊZ é um curta-metragem de ficção, com 25 minutos, que conta de forma não linear, a volta de Inêz, uma ex-guerrilheira que foi presa e torturada pela ditadura militar dos anos 1960, depois de muitos anos de ausência, para sua antiga casa, em ruínas.
Este filme conversa com a tradição do cinema experimental, que suprime as regras e preceitos do discurso cinematográfico clássico, numa forma mais livre de se fazer cinema. A linguagem fílmica trabalha a questão da suspensão do tempo, da memória e do lugar; retratando assim as recordações subjetivas e o fluxo de consciência dessa mulher. O filme tem sua inspiração no  expressionismo alemão da década de 20,  na estética do Dogma 95 e novo cinema asiático.

Trabalho de Conclusão do Curso de Cinema e Audiovisual – Centro de Artes, Humanidades e Letras (CAHL – Cachoeira – BA) - Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB . Orientadora: Drª Angelita Bogado.
Produção filmes baldios

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