Teu cheiro amarfanho durante toda a cidade
e nos dentes postos sobre a mesa
como um escapulário tua lascívia eu pressinto.
Nem a lua nem teus olhos certamente me salvarão deste teu cheiro espesso.
Eu cresci nestas estranhas paragens sem estrelas entre bichos e flores
como se não fossem cobertos pela escuridão.
Apenas arfava um golpe entre o vazio de mim
e a captura de insetos do inferno em teus cabelos.
Em inquietude, me preparo para a dor.

Nelson Magalhães Filho


"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos

do mundo."
( Fernando Pessoa: Tabacaria)




Realizar trabalhos de arte a base das experiências existenciais, como transpor as imensidões dolorosas das noites urinadas. Fingir figuras concebidas do desejo e da amargura. Instigações obscurecidas pela lua. Não acretido na pintura agradável. Há algum tempo meu trabalho é como um lugar em que não se pode viver. Uma pintura inóspita e ao mesmo tempo infectada de frinchas para deixar passar as forças e os ratos. Cada vez mais ermo, vou minando a mesma terra carregada de rastros e indícios ásperos dentro de mim, para que as imagens sejam vislumbradas não apenas como um invólucro remoto de tristezas, mas também como excrementos de nosso tempo. Voltar a ser criança ou para um hospital psiquiátrico, tanto faz se meu estômago dói. Ainda não matem os porcos. A pintura precisa estar escarpada no ponto mais afastado desse curral sinistro.
Nelson Magalhães Filho

sábado, julho 24, 2010

livro de poemas cachorro rabugento é lançado em Feira de Santana

Prefácio: Lima Trindade
Ilustrações: Devarnier Hembadoom
Coordenação editorial: Roberval Pereyr
Editoração e impressão: Edson Machado
Coleção Aldebarã - 6
Museu de Arte Contemporânea Raimundo Oliveira
Feira de Santana - Ba - 2010

4 comentários:

Rounds disse...

quero uma cópia.

buenas!

Luciano Fraga disse...

Buenas, já tenho e também já reli,indispensável... abraço.

Douglas Vieira disse...

Mestre Nelson, grande obra essa, a qual um cachorro enfeita os céus ou infernos.
Muito obrigado pelos presentes, literário e moral.


Forte abraço.

Denise disse...

Gostaria muito de ter um exemplar.
Amanheceu.