Teu cheiro amarfanho durante toda a cidade
e nos dentes postos sobre a mesa
como um escapulário tua lascívia eu pressinto.
Nem a lua nem teus olhos certamente me salvarão deste teu cheiro espesso.
Eu cresci nestas estranhas paragens sem estrelas entre bichos e flores
como se não fossem cobertos pela escuridão.
Apenas arfava um golpe entre o vazio de mim
e a captura de insetos do inferno em teus cabelos.
Em inquietude, me preparo para a dor.

Nelson Magalhães Filho


"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos

do mundo."
( Fernando Pessoa: Tabacaria)




Realizar trabalhos de arte a base das experiências existenciais, como transpor as imensidões dolorosas das noites urinadas. Fingir figuras concebidas do desejo e da amargura. Instigações obscurecidas pela lua. Não acretido na pintura agradável. Há algum tempo meu trabalho é como um lugar em que não se pode viver. Uma pintura inóspita e ao mesmo tempo infectada de frinchas para deixar passar as forças e os ratos. Cada vez mais ermo, vou minando a mesma terra carregada de rastros e indícios ásperos dentro de mim, para que as imagens sejam vislumbradas não apenas como um invólucro remoto de tristezas, mas também como excrementos de nosso tempo. Voltar a ser criança ou para um hospital psiquiátrico, tanto faz se meu estômago dói. Ainda não matem os porcos. A pintura precisa estar escarpada no ponto mais afastado desse curral sinistro.
Nelson Magalhães Filho

terça-feira, fevereiro 06, 2007

Retrato do artista quando jovem cachorro morto em noite chuvosa. Com Patrícia Mendes no TEATRO DO PORÃO (Cuz das Almas, Ba.) em 1989, encenando A NOITE, texto de Graça de Sena.

2 comentários:

Anônimo disse...

un presente para mim, uma vez que eu nem sabia da existencia deste trabalho, os personagens estão realmente com um vizual bastante interessante. tem coisas que não tem explicação mesmo. eu não consigo aceitar como trabalhos e trabalhadores, desse quilate, são esquecidos nesta cidade das sombras. é preciso publicar mais dessas coisas antigas.

Anônimo disse...

Buenas,que período maravilhoso,criativo,a saudade deve bater forte.A cara cínica do ator com o charuto fino na boca está demais.O "RED BOY" é rezador sabia?