Teu cheiro amarfanho durante toda a cidade
e nos dentes postos sobre a mesa
como um escapulário tua lascívia eu pressinto.
Nem a lua nem teus olhos certamente me salvarão deste teu cheiro espesso.
Eu cresci nestas estranhas paragens sem estrelas entre bichos e flores
como se não fossem cobertos pela escuridão.
Apenas arfava um golpe entre o vazio de mim
e a captura de insetos do inferno em teus cabelos.
Em inquietude, me preparo para a dor.

Nelson Magalhães Filho


"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos

do mundo."
( Fernando Pessoa: Tabacaria)




Realizar trabalhos de arte a base das experiências existenciais, como transpor as imensidões dolorosas das noites urinadas. Fingir figuras concebidas do desejo e da amargura. Instigações obscurecidas pela lua. Não acretido na pintura agradável. Há algum tempo meu trabalho é como um lugar em que não se pode viver. Uma pintura inóspita e ao mesmo tempo infectada de frinchas para deixar passar as forças e os ratos. Cada vez mais ermo, vou minando a mesma terra carregada de rastros e indícios ásperos dentro de mim, para que as imagens sejam vislumbradas não apenas como um invólucro remoto de tristezas, mas também como excrementos de nosso tempo. Voltar a ser criança ou para um hospital psiquiátrico, tanto faz se meu estômago dói. Ainda não matem os porcos. A pintura precisa estar escarpada no ponto mais afastado desse curral sinistro.
Nelson Magalhães Filho

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Rosa e Gabriel em: Espere até a última chuva roer seu coração, de Nelson Magalhães Filho, 2006.
Adalton, Sandro, Gabriel e Geyza.

Ronaldo Braga interpretando POEMAS de Hilda Hilst, 2001.

Alguns momentos da companhia dos anjos baldios no Teatro do Porão da Casa da Cultura Galeno d'Avelírio (Cruz das Almas, BA)
Pablo Sales em: O PALHAÇO E A BAILARINA, de Isac Tufi. Direção de NMF, 1999.
Nelson Magalhães Filho em: O PESA NERVOS, livremente inspirada no texto de Antonin Artaud. Direção de Pablo Sales, 1999.
Patrícia Mendes e NMF em: A NOITE, de Graça de Sena. Direção de NMF, 1989.



2 comentários:

Anônimo disse...

há uma historia que não pode e nem vai ser apagada, é uma historia conduzida com dignidade, tenacidade e muita criatividade, essa história precisa ser sempre lembrada queira alguns ou não ronaldo braga e nelson magalhães filho contribuiram e contribuem de forma muito direta com o desenvolvimento das artes e de muitos artistas em cruz das almas.e
se a oficialidade ingnora isto.a realidade é a demonstração dessa verdade.

adelice souza disse...

Maravilha,maravilha. E há políticos locais ajudando este teatro andar? Ou vocês fazem tudo sozinhos como Atlas carregando o universo nas costas?