Teu cheiro amarfanho durante toda a cidade
e nos dentes postos sobre a mesa
como um escapulário tua lascívia eu pressinto.
Nem a lua nem teus olhos certamente me salvarão deste teu cheiro espesso.
Eu cresci nestas estranhas paragens sem estrelas entre bichos e flores
como se não fossem cobertos pela escuridão.
Apenas arfava um golpe entre o vazio de mim
e a captura de insetos do inferno em teus cabelos.
Em inquietude, me preparo para a dor.

Nelson Magalhães Filho


"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos

do mundo."
( Fernando Pessoa: Tabacaria)




Realizar trabalhos de arte a base das experiências existenciais, como transpor as imensidões dolorosas das noites urinadas. Fingir figuras concebidas do desejo e da amargura. Instigações obscurecidas pela lua. Não acretido na pintura agradável. Há algum tempo meu trabalho é como um lugar em que não se pode viver. Uma pintura inóspita e ao mesmo tempo infectada de frinchas para deixar passar as forças e os ratos. Cada vez mais ermo, vou minando a mesma terra carregada de rastros e indícios ásperos dentro de mim, para que as imagens sejam vislumbradas não apenas como um invólucro remoto de tristezas, mas também como excrementos de nosso tempo. Voltar a ser criança ou para um hospital psiquiátrico, tanto faz se meu estômago dói. Ainda não matem os porcos. A pintura precisa estar escarpada no ponto mais afastado desse curral sinistro.
Nelson Magalhães Filho

quinta-feira, março 06, 2008

Ruela
http://fishyarts2.blogspot.com/


DAS ELEGIAS: IMPONDERÁVEL
Quando nosso deus envelhecer
virá uma morte maior, de
nada adiantará os colossos
erguidos nas planícies e nos

desertos, nas montanhas sem fim
de nossa alma em sua jornada
agônica pelos séculos;
de nós salmo nenhum ao vento

dirá se fomos loucos ou belos;
porém no espelho insondável e
eterno, além de nossa pobreza
e vaidade, quem há de constatar

que nossa estadia não foi um
capricho? Nós, os imponderáveis.

João Filho
http://hiperghetto.blogspot.com/

2 comentários:

Anônimo disse...

gostei do poema.
mas o meu deus nasceu morto

Luciano Fraga disse...

Belo poema.Nossa estadia poderia ser um capricho de quem?Um "GRITO",outro "GRITO",um eco grandioso em mais uma fant�stica do ruela,de mais...