e nos dentes postos sobre a mesa
como um escapulário tua lascívia eu pressinto.
Nem a lua nem teus olhos certamente me salvarão deste teu cheiro espesso.
Eu cresci nestas estranhas paragens sem estrelas entre bichos e flores
como se não fossem cobertos pela escuridão.
Apenas arfava um golpe entre o vazio de mim
e a captura de insetos do inferno em teus cabelos.
Em inquietude, me preparo para a dor.
Nelson Magalhães Filho

Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos
do mundo."
( Fernando Pessoa: Tabacaria)
Nelson Magalhães Filho
quarta-feira, julho 22, 2009
segunda-feira, julho 20, 2009
quinta-feira, julho 16, 2009
Fábulas de figueiras imoladas dentro da noite,
por acaso astúcias são imundícies?
Viva a prosódia abocanhada suscitando indagações.
A música vinha pela janela, parecia o noturno
em fá sustenido de Chopin nesta noite alheia
que peguei num livro do John Fante.
O quarto amanhecia como um perfume arrogante,
sei lá, mas era o alvorecer.
Às vezes Cândida gostava de reter a manhã
em suas mãos sempre cálidas: “você prefere tocá-la mais tarde?”
Ah, esses sinistros quintais, essas noites de pelúcia
(talvez saídas de alguma gravura gótica
ou de um cochilo do Albrech Dürer).
Tudo isso é Cândida, que sofre
de indisposições imaginárias. Navegávamos
nas porções de folhas arrancadas pelas influências
malévolas dos tempos recuados
e o céu desta cidade ameaçadora é como um besouro
perdido dentro do espelho notívago
(como dois grilos brigando cri cri cri) lagarta
de fogo na parede encarnada do quarto.
Decidimos no caminho ver tudo que fosse bizarro
e anotar no diário: sandália pelo avesso,
osso de jasmim, ouriço-do-mar, carretel com linha, etc.
Aí veio o mesmo ímpeto, uma maldade intensa
e celestial apossando-me e tecendo meus vasos sanguíneos
e bebendo mandrágoras, a visão...
não é muito provável que a lua embaciada
adormeça amanhã. Lá vem Fernando Pessoa
e Lupicínio: os camaleões são eternos
e inatingíveis. Um relógio ancorado
numa estrela em vaivém e o mundo é varrido
pelos anjos de mau agouro, tricotar
teus cabelos minha amante buliçosa borboleta
talhada no peito, bebo tanino, farejo
um segredo num deserto improvável a busca
do bálsamo, olor das vestes rasgadas
nestes apontamentos absurdos encurtando
minha expíação cortes profundos e estreitos,
nosso futuro atávico, talismã tatuado sempre na dor...
Nelson Magalhães Filho
quarta-feira, julho 15, 2009
terça-feira, julho 14, 2009

convida para a exposição DECIFRA-ME de Mírcia Verena
Disciplina Prática Profissional
Professor Fernando Pinto
Orientador Nelson Magalhães Filho
ABERTURA: 14 de julho de 2009
Galeria Juarez Paraíso (Escola de Belas Artes)
Terça-Feira: 19h
Até 31 de julho




DECIFRA-ME sugere uma profunda investigação acerca deste mosaico abstrato de colagens, onde a prisão e a beleza, que às vezes pode ser trágica, estão juntas, ao mesmo tempo em que um ligeiro e terno erotismo nos remetem à literatura de Anaïs Nin e aos poemas de Myriam Fraga: “E por saber que a morte/ É a última chave,/ Advinho-me nas vítimas/ Que estraçalho” (A Esfinge).
Mírcia, que trabalha ouvindo as canções de Nana Caymmi e Carla Bruni, diz que sua criação vem mais das formas sugeridas pelas colagens estudadas minuciosamente em papel, do que de uma temática determinada antecipadamente.
DECIFRA-ME é uma exposição belíssima, que transita com referência poética nos sortilégios dos ajuntamentos aleatórios, e comemora suas vivências pessoais numa condução encantadora através de um dédalo de formas fantasiosas. Imperdível!
Nelson Magalhães Filho
segunda-feira, julho 13, 2009
sábado, julho 11, 2009

floriano martins 2009
floriano.agulha@gmail.com
www.revista.agulha.nom.br/abraxas.htm