Teu cheiro amarfanho durante toda a cidade
e nos dentes postos sobre a mesa
como um escapulário tua lascívia eu pressinto.
Nem a lua nem teus olhos certamente me salvarão deste teu cheiro espesso.
Eu cresci nestas estranhas paragens sem estrelas entre bichos e flores
como se não fossem cobertos pela escuridão.
Apenas arfava um golpe entre o vazio de mim
e a captura de insetos do inferno em teus cabelos.
Em inquietude, me preparo para a dor.

Nelson Magalhães Filho


"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos

do mundo."
( Fernando Pessoa: Tabacaria)




Realizar trabalhos de arte a base das experiências existenciais, como transpor as imensidões dolorosas das noites urinadas. Fingir figuras concebidas do desejo e da amargura. Instigações obscurecidas pela lua. Não acretido na pintura agradável. Há algum tempo meu trabalho é como um lugar em que não se pode viver. Uma pintura inóspita e ao mesmo tempo infectada de frinchas para deixar passar as forças e os ratos. Cada vez mais ermo, vou minando a mesma terra carregada de rastros e indícios ásperos dentro de mim, para que as imagens sejam vislumbradas não apenas como um invólucro remoto de tristezas, mas também como excrementos de nosso tempo. Voltar a ser criança ou para um hospital psiquiátrico, tanto faz se meu estômago dói. Ainda não matem os porcos. A pintura precisa estar escarpada no ponto mais afastado desse curral sinistro.
Nelson Magalhães Filho

quinta-feira, julho 26, 2007

Desenho de Nelson Magalhães Filho

OS SONHOS DA TERRA

A noite não é mais um cão
rasgando lixos burgueses
dos fartos quintais
agora é um macaco
dilacerando sangrentamente
frutas do p-e-c-a-d-o
na estátua fogosa deste
verde - cavalo
a noite não é mais um chichuahua
lambendo colostro nas tetas da lua
é somente um chipanzé
pulando galhos coloridos
serpenteando a seiva de árvores
proibidas deste louco paraíso
a noite não é mais um cachorro
já não é mais uma moça
já não é mais um macaco
é simplesmente um
ANJO vermelho
cavalgando sonhos etéreos
em campinas de espelhos
sobre os sonos da terra.

Lita Passos


Desenho de Fábio Magalhães

Nem todos os dias
acordamos os mesmos
nem todas as noites
dormimos a sós
nem todos os ermos
nos deixam desertos
se enfim compreendemos
e desatamos os nós.

Dalila Machado

Um comentário:

Anônimo disse...

Oi Buenas, adoro este poema. Estive aí no niver da funga. Bjs Lita Pássaro.