Teu cheiro amarfanho durante toda a cidade
e nos dentes postos sobre a mesa
como um escapulário tua lascívia eu pressinto.
Nem a lua nem teus olhos certamente me salvarão deste teu cheiro espesso.
Eu cresci nestas estranhas paragens sem estrelas entre bichos e flores
como se não fossem cobertos pela escuridão.
Apenas arfava um golpe entre o vazio de mim
e a captura de insetos do inferno em teus cabelos.
Em inquietude, me preparo para a dor.

Nelson Magalhães Filho


"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos

do mundo."
( Fernando Pessoa: Tabacaria)




Realizar trabalhos de arte a base das experiências existenciais, como transpor as imensidões dolorosas das noites urinadas. Fingir figuras concebidas do desejo e da amargura. Instigações obscurecidas pela lua. Não acretido na pintura agradável. Há algum tempo meu trabalho é como um lugar em que não se pode viver. Uma pintura inóspita e ao mesmo tempo infectada de frinchas para deixar passar as forças e os ratos. Cada vez mais ermo, vou minando a mesma terra carregada de rastros e indícios ásperos dentro de mim, para que as imagens sejam vislumbradas não apenas como um invólucro remoto de tristezas, mas também como excrementos de nosso tempo. Voltar a ser criança ou para um hospital psiquiátrico, tanto faz se meu estômago dói. Ainda não matem os porcos. A pintura precisa estar escarpada no ponto mais afastado desse curral sinistro.
Nelson Magalhães Filho

quinta-feira, novembro 09, 2006

Dentro da programação da VIII Bienal do Recôncavo no Centro Cultural Dannemann (São Félix, BA), o filme ALICE, de Nelson Magalhães Filho, será exibido dia 18 de novembro (sábad0) às 21:30 horas, na MOSTRA PARALELA DE VÍDEOS. Numa noite avermelhada por estranhas paixões, um homem transtornado liga para Alice de um telefone público dizendo que está sendo perseguido por pessoas bizarras, enquanto ele se dirige para o mar. Com Pablo Sales. Duração: 13 min.

Um comentário:

Anônimo disse...

ALICE, filme maravilhosamente dirigido por meu amigo Buenas-NMF,com a competente interpretação do nosso querido Pablo, no vermelho do fundo desse filme pulsa o estranhamento da vida, do olhar, do sentir, do ver, dos mistérios. É divinamente, absurdamente estranho!! Eu já assistir e quero assistir de novo!!
Meus amigos cineastas tecem rasgados elogios! Parabéns Buenas!