Teu cheiro amarfanho durante toda a cidade
e nos dentes postos sobre a mesa
como um escapulário tua lascívia eu pressinto.
Nem a lua nem teus olhos certamente me salvarão deste teu cheiro espesso.
Eu cresci nestas estranhas paragens sem estrelas entre bichos e flores
como se não fossem cobertos pela escuridão.
Apenas arfava um golpe entre o vazio de mim
e a captura de insetos do inferno em teus cabelos.
Em inquietude, me preparo para a dor.

Nelson Magalhães Filho


"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos

do mundo."
( Fernando Pessoa: Tabacaria)




Realizar trabalhos de arte a base das experiências existenciais, como transpor as imensidões dolorosas das noites urinadas. Fingir figuras concebidas do desejo e da amargura. Instigações obscurecidas pela lua. Não acretido na pintura agradável. Há algum tempo meu trabalho é como um lugar em que não se pode viver. Uma pintura inóspita e ao mesmo tempo infectada de frinchas para deixar passar as forças e os ratos. Cada vez mais ermo, vou minando a mesma terra carregada de rastros e indícios ásperos dentro de mim, para que as imagens sejam vislumbradas não apenas como um invólucro remoto de tristezas, mas também como excrementos de nosso tempo. Voltar a ser criança ou para um hospital psiquiátrico, tanto faz se meu estômago dói. Ainda não matem os porcos. A pintura precisa estar escarpada no ponto mais afastado desse curral sinistro.
Nelson Magalhães Filho

terça-feira, novembro 21, 2006

Nelson Magalhães Filho. Da série CONSPIRAÇÕES, 2004. Mista s/papelão, 100X80 cm




Invernia nas pastagens.
Corria como as águas
desaguando no mar
em grande intensidade.
As ruas despovoadas
e escuras.
A noite expira sua compaixão,
diante dos cães rudes,
os dias tem sido embriagados
das impurezas da lua
e minhas veias caminham
no lodo noturno deste inverno.
Eu sei que a morte
se aproxima entre flores vindouras
nos dentes do minotauro.

Nelson Magalhães Filho

7 comentários:

Anônimo disse...

Buenas: Esses teus fantasmas/anjosbaldios, de noites insones, povoando meu olhar de medos!? "Cruz, credo,pé de pato, mangalô 03 vezes"!? rsrrs

Lita Passos

Anônimo disse...

a morte caminha em procissão de andorinhas verdes e cada vez mais longe esquece as canções de ninar e sorrisos perolas desabroxam todos os nós dos mundos,e é morte na cidade das sombras e os poemas choram funerais agudos em recitais de cadaveres perfumados em suas casas de cultura.

Anônimo disse...

a morte caminha em procissão de andorinhas verdes e cada vez mais longe esquece as canções de ninar e sorrisos perolas desabroxam todos os nós dos mundos,e é morte na cidade das sombras e os poemas choram funerais agudos em recitais de cadaveres perfumados em suas casas de cultura.

Anônimo disse...

o anonimo que disse que a morte caminha em procissão de andorinhas e etc sou eu ronaldo braga

Anônimo disse...

o anonimo que disse que a morte caminha em procissão de andorinhas e etc sou eu ronaldo braga

Anônimo disse...

Lita, os anjos já não nos assustam mais. Beijos

Anônimo disse...

Ronaldo, a morte sempre na espreita na cidade das sombras. Grande abraço.