Nelson Magalhães Filho. PAISAGENS QUE AS CRIANÇAS URBANAS COMERAM, 1995, mista s/tela, 185X145 cm
Veja se atravessa dentro de mim, são anos de beber folhas de nínfeas eu todo vestido de máquina das odisséias amargas tingido de ilusão, atirando casca de laranja na chuva das urânias, como a DAMA LUA de Pollock, dizendo numa carta que ser poeta é levar o abismo na alma. Por uma estranha certeza eu acreditava que as ruas afundaram. Se fuderam como se nunca, atrás de nós, irrespondíveis os quartos à luz de garotos podres & das reproduções de Bosch. Sangro ao sax do Erik Satie & o que está incrustado em mim é a fundura de um vendaval proibido. Ainda gosto de brincar com aquele gato de olhar corrosivo dos aguaceiros vomitando as paisagens que as crianças urbanas comeram com os insetos& as divindades, gravando na memória dos becos & nos asfaltos os sonhos dos meninos, indizíveis. E o sorriso alguns anos escuros na crueldade... alguém me dizendo não aos seus medos (mussitação que saía de seus lábios grossos) alguém rasgando a sua pele despindo-se com desenvoltura alguém me acariciando o peito deixando fluir seu brilho desesperado alguém me dizendo que já não acha loucura tragar estrelas como cigarros de haxixe quando as cores de todos os seus olhos saravam minhas feridas.
Nelson Magalhães Filho
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Literário...
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Há 4 dias
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