Teu cheiro amarfanho durante toda a cidade
e nos dentes postos sobre a mesa
como um escapulário tua lascívia eu pressinto.
Nem a lua nem teus olhos certamente me salvarão deste teu cheiro espesso.
Eu cresci nestas estranhas paragens sem estrelas entre bichos e flores
como se não fossem cobertos pela escuridão.
Apenas arfava um golpe entre o vazio de mim
e a captura de insetos do inferno em teus cabelos.
Em inquietude, me preparo para a dor.

Nelson Magalhães Filho


"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos

do mundo."
( Fernando Pessoa: Tabacaria)




Realizar trabalhos de arte a base das experiências existenciais, como transpor as imensidões dolorosas das noites urinadas. Fingir figuras concebidas do desejo e da amargura. Instigações obscurecidas pela lua. Não acretido na pintura agradável. Há algum tempo meu trabalho é como um lugar em que não se pode viver. Uma pintura inóspita e ao mesmo tempo infectada de frinchas para deixar passar as forças e os ratos. Cada vez mais ermo, vou minando a mesma terra carregada de rastros e indícios ásperos dentro de mim, para que as imagens sejam vislumbradas não apenas como um invólucro remoto de tristezas, mas também como excrementos de nosso tempo. Voltar a ser criança ou para um hospital psiquiátrico, tanto faz se meu estômago dói. Ainda não matem os porcos. A pintura precisa estar escarpada no ponto mais afastado desse curral sinistro.
Nelson Magalhães Filho

terça-feira, abril 24, 2007

SÉRIE DE MARÉS SEQUIOSAS

ainda o mesmo vício
da negra transparência
isso de se assumir a malvadez
sem lamentar com veemência
no momento em que seu olhar funesto
começa a vingar com rudeza.
Nelson Magalhães Filho

Fotografias digitais: NMF

3 comentários:

Anônimo disse...

a crueldade é bela, e Nietzsche em
ALÉM DO BEM E DO MAL diz que ainda "nenhum advogado teve a coragem e a inteligência de defender o réu usando a beleza do seu crime", mas os poetas sabem com sua palavra magica com sua canção de vida, exasperar realidades e expor feridas em toda sua estética e beleza.

Anônimo disse...

zé de rita no paraguai comprou um anel de fitas e no pescoço do amor deixou.

Fabrício Brandão disse...

Nelson,

Tuas linhas põem o sangue à beira da poética aguçada. Bravo!

Passo aqui também para lhe avisar que nossa revista eletrônica culural agora se chama DIVERSOS AFINS.

www.diversos-afins.blogspot.com

NOSSO E-MAIL: diversosafins@gmail.com

Abraços e seja bem-vindo!