Teu cheiro amarfanho durante toda a cidade
e nos dentes postos sobre a mesa
como um escapulário tua lascívia eu pressinto.
Nem a lua nem teus olhos certamente me salvarão deste teu cheiro espesso.
Eu cresci nestas estranhas paragens sem estrelas entre bichos e flores
como se não fossem cobertos pela escuridão.
Apenas arfava um golpe entre o vazio de mim
e a captura de insetos do inferno em teus cabelos.
Em inquietude, me preparo para a dor.

Nelson Magalhães Filho


"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos

do mundo."
( Fernando Pessoa: Tabacaria)




Realizar trabalhos de arte a base das experiências existenciais, como transpor as imensidões dolorosas das noites urinadas. Fingir figuras concebidas do desejo e da amargura. Instigações obscurecidas pela lua. Não acretido na pintura agradável. Há algum tempo meu trabalho é como um lugar em que não se pode viver. Uma pintura inóspita e ao mesmo tempo infectada de frinchas para deixar passar as forças e os ratos. Cada vez mais ermo, vou minando a mesma terra carregada de rastros e indícios ásperos dentro de mim, para que as imagens sejam vislumbradas não apenas como um invólucro remoto de tristezas, mas também como excrementos de nosso tempo. Voltar a ser criança ou para um hospital psiquiátrico, tanto faz se meu estômago dói. Ainda não matem os porcos. A pintura precisa estar escarpada no ponto mais afastado desse curral sinistro.
Nelson Magalhães Filho

domingo, julho 08, 2007

AGULHA - REVISTA DE CULTURA

Pintura de Nelson Magalhães Filho na revista de cultura

Na Edição atual da revista de cultura AGULHA # 58 ( julho-agosto de 2007) tem um ensaio de Wesley Barbosa Correia: Nelson Magalhães Filho e a arte transgressora. A revista é dirigida por Floriano Martins e Claudio Willer.
CLICA AQUI: http://www.revista.agulha.nom.br/ag58filho.htm

5 comentários:

Ruela disse...

Passei-me, belíssimo está este.
Um dos melhores que aqui vi.
Sério.
Abraço.

Ruela disse...

Nunca o disse, porque cada um tem o seu estilo, mas o seu trabalho faz-me lembrar Basquiat e Pollock ao mesmo tempo.
Gosto muito porque são dois dos meus heróis.
Os outros são Dalí e HR Giger.
Marcou.

Anônimo disse...

Valeu Ruela. Você acertou: realmente eu adoro o Basquiat e o Pollock. Grande abraço.

Ruela disse...

Olha Nelson "paciência" tenho que passar palavra.
Cá vai para os meus favoritos que ainda não tiveram esta sorte(se quiserem claro):
Digital Pixel, Anjo baldio, Escárnio e Maldizer, Varal das ideias e Fotopoemas Osselin.
É só dizerem os últimos 5 livros que leram!
Abraço.

Zé de Rocha disse...

Ah! Conte-me algo novo.
O ensaio do Wesley só confirma o que eu já sei: Adoro seu trabalho!
Parabéns!