Teu cheiro amarfanho durante toda a cidade
e nos dentes postos sobre a mesa
como um escapulário tua lascívia eu pressinto.
Nem a lua nem teus olhos certamente me salvarão deste teu cheiro espesso.
Eu cresci nestas estranhas paragens sem estrelas entre bichos e flores
como se não fossem cobertos pela escuridão.
Apenas arfava um golpe entre o vazio de mim
e a captura de insetos do inferno em teus cabelos.
Em inquietude, me preparo para a dor.

Nelson Magalhães Filho


"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos

do mundo."
( Fernando Pessoa: Tabacaria)




Realizar trabalhos de arte a base das experiências existenciais, como transpor as imensidões dolorosas das noites urinadas. Fingir figuras concebidas do desejo e da amargura. Instigações obscurecidas pela lua. Não acretido na pintura agradável. Há algum tempo meu trabalho é como um lugar em que não se pode viver. Uma pintura inóspita e ao mesmo tempo infectada de frinchas para deixar passar as forças e os ratos. Cada vez mais ermo, vou minando a mesma terra carregada de rastros e indícios ásperos dentro de mim, para que as imagens sejam vislumbradas não apenas como um invólucro remoto de tristezas, mas também como excrementos de nosso tempo. Voltar a ser criança ou para um hospital psiquiátrico, tanto faz se meu estômago dói. Ainda não matem os porcos. A pintura precisa estar escarpada no ponto mais afastado desse curral sinistro.
Nelson Magalhães Filho

quarta-feira, julho 25, 2007

Nelson Magalhães Filho. Série de 1999, mista s/tela, 185X145 cm


Uma fotografia monótona

Ela percebe que todos os olhares recaem sobre ela, uma invenção hiper-rítmica junto a um staccato.
E quem dera eu estivesse familiarizada com sua amizade com um ser imaginário, este tentou seduzir e imortalizar sua mãe auto sacrificada.
Por um breve momento, o simpático "mongoose" grita sobre desejo.
Uma perigosa balada que corta o terror e desafia o desastre
Uma visão alternativa agonizante de seu último drink antes da grande tormenta. Mas de uma insensível e caótica luta, um grande molde em forma de corpo exala um fétido e coercivo charme.

Barti Sena

8 comentários:

Ana M disse...

de alguma maneira que ainda não sei explicar, estas pinturas me tocam. me provocam. não passo inerte por elas. ah, linkei teu blog na minha casa. bisou.

Anônimo disse...

Valeu Ana. Obrigado pela visita e pelo link. Um grande abraço.

L. Rafael Nolli disse...

Nelson, a tua tela no Diversos Afins me impressionou bastante. Conheço seu trabalho de pouco tempo, mas tem me surpreendido demais! Cada vez que me deparo com uma tela sua é uma nova surpresa. Tenho

Ruela disse...

O que posso dizer perante um grande talento?
Simplesmente gosto.

Anônimo disse...

Obrigado Rafael. Um abração.

Anônimo disse...

Ruela, valeu. Um grande abraço.

Anônimo disse...

Arte em tela e palavras, sincronina perfeita...

Bjca doce

Anônimo disse...

Obrigado pelas palavras doces. Um forte abraço.