Teu cheiro amarfanho durante toda a cidade
e nos dentes postos sobre a mesa
como um escapulário tua lascívia eu pressinto.
Nem a lua nem teus olhos certamente me salvarão deste teu cheiro espesso.
Eu cresci nestas estranhas paragens sem estrelas entre bichos e flores
como se não fossem cobertos pela escuridão.
Apenas arfava um golpe entre o vazio de mim
e a captura de insetos do inferno em teus cabelos.
Em inquietude, me preparo para a dor.

Nelson Magalhães Filho


"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos

do mundo."
( Fernando Pessoa: Tabacaria)




Realizar trabalhos de arte a base das experiências existenciais, como transpor as imensidões dolorosas das noites urinadas. Fingir figuras concebidas do desejo e da amargura. Instigações obscurecidas pela lua. Não acretido na pintura agradável. Há algum tempo meu trabalho é como um lugar em que não se pode viver. Uma pintura inóspita e ao mesmo tempo infectada de frinchas para deixar passar as forças e os ratos. Cada vez mais ermo, vou minando a mesma terra carregada de rastros e indícios ásperos dentro de mim, para que as imagens sejam vislumbradas não apenas como um invólucro remoto de tristezas, mas também como excrementos de nosso tempo. Voltar a ser criança ou para um hospital psiquiátrico, tanto faz se meu estômago dói. Ainda não matem os porcos. A pintura precisa estar escarpada no ponto mais afastado desse curral sinistro.
Nelson Magalhães Filho

sexta-feira, julho 11, 2008

disco, livro e filme para esse fim de semana




5 comentários:

Luciano Fraga disse...

Buenas,fim de semana da pesada,por onde começar?

Ruela disse...

Bom som, o filme ainda não vi.


Abraço.

Klatuu o embuçado disse...

Não sei de que gostei mais, se do poema se de tu a dizê-lo no video que o Ruela postou na NA!

Não demora a publicar lá, Amigo... Estamos cagando pra uns merdas que por lá aparecem a vomitar idiotices - aquilo nem são Portugueses, são uns clones europeus avariados!

Aquele abraço!

P. S. A fita, não vi, do resto gosto; apesar de eu ser um Monarquista, ou por isso, Thoreau inspira muito do meu pensamento político.

Senhorita B. disse...

Adorei esse filme, Nelson! A Suzanne Bier é uma das minhas diretoras favoritas.
Grande abraço,
Renata

Kátia disse...

Eu assisti também a esse filme,pois sou uma cinéfila de carteirinha.A Halle Berry está espetacular em parceria com o Benício nesse conflito das "coisas que perdemos pelo caminho" e o real valor da amizade.

Parabéns!