Teu cheiro amarfanho durante toda a cidade
e nos dentes postos sobre a mesa
como um escapulário tua lascívia eu pressinto.
Nem a lua nem teus olhos certamente me salvarão deste teu cheiro espesso.
Eu cresci nestas estranhas paragens sem estrelas entre bichos e flores
como se não fossem cobertos pela escuridão.
Apenas arfava um golpe entre o vazio de mim
e a captura de insetos do inferno em teus cabelos.
Em inquietude, me preparo para a dor.

Nelson Magalhães Filho


"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos

do mundo."
( Fernando Pessoa: Tabacaria)




Realizar trabalhos de arte a base das experiências existenciais, como transpor as imensidões dolorosas das noites urinadas. Fingir figuras concebidas do desejo e da amargura. Instigações obscurecidas pela lua. Não acretido na pintura agradável. Há algum tempo meu trabalho é como um lugar em que não se pode viver. Uma pintura inóspita e ao mesmo tempo infectada de frinchas para deixar passar as forças e os ratos. Cada vez mais ermo, vou minando a mesma terra carregada de rastros e indícios ásperos dentro de mim, para que as imagens sejam vislumbradas não apenas como um invólucro remoto de tristezas, mas também como excrementos de nosso tempo. Voltar a ser criança ou para um hospital psiquiátrico, tanto faz se meu estômago dói. Ainda não matem os porcos. A pintura precisa estar escarpada no ponto mais afastado desse curral sinistro.
Nelson Magalhães Filho

sexta-feira, novembro 03, 2006

Nelson Magalhães Filho. Da série MULHERES, 2004-2005, mista s/ papel, 70X50 cm.


O MORMAÇO DOS SEGREDOS

Teus seios noturnos
são lamparinas negras
queimando meu cansaço.
Ressuscito quando te toco
e sinto o mormaço
do teu último segredo.
Hospedo-me no teu mito
e o meu coração
assina o enredo.

Luciano Passos

Como dizia Fernando Pessoa, "morre jovem o que os deuses amam, é um preceito da sabedoria antiga. E por certo a imaginação, que figura novos mundos, e a arte, que em obras os finge, são os sinais notáveis desse amor divino. Não concedem os deuses esses dons para que sejamos felizes, senão para que sejamos seus pares..."

Ontem, tarde da noite, ouvia a voz sombria de Nico em "The marble index-69" e "Drama of Exile-81", e pensei no meu amigo Luciano Passos, que foi embora muito cedo levado pelo amor cruel dos anjos.


4 comentários:

Anônimo disse...

Buenas,este mormaço de poesia acendeu meu fogo interior...
LF

Anônimo disse...

Buenas,

"ressuscito quando te toco/ sinto o mormaço do teu último segredo"... isto é sério, chega a ser grave!! é mui beloooooooooo

adorei
bjs
Lita Pássaro

Anônimo disse...

não consigo enviar coments mas tudo bem nas latrinas cruzalmenses com seus tristes cús entupidos e despreziveis que os agicolas morram felizes nas noites de mentiras ardentes e caretas.eu quero morrer aos 120 anos e os anjos não gostam de mim eu sou um exú terrestre azul e terrivel a desafinar o coro dos contentes como dizia meu amigo torquato neto que do inferno manda lembranças.
ronaldo braga

Anônimo disse...

eé isso companheiro de estradas longas seu blog caminha nuvens carregadass e pesadas ondas curvam cabeças covardes o antipoeta canta uma musica esquecida das dores de partos mortes e vc aguenta sorrisos desgraçados.en frente.
ronaldo