Teu cheiro amarfanho durante toda a cidade
e nos dentes postos sobre a mesa
como um escapulário tua lascívia eu pressinto.
Nem a lua nem teus olhos certamente me salvarão deste teu cheiro espesso.
Eu cresci nestas estranhas paragens sem estrelas entre bichos e flores
como se não fossem cobertos pela escuridão.
Apenas arfava um golpe entre o vazio de mim
e a captura de insetos do inferno em teus cabelos.
Em inquietude, me preparo para a dor.
Nelson Magalhães Filho
"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo."
( Fernando Pessoa: Tabacaria)
Realizar trabalhos de arte a base das experiências existenciais, como transpor as imensidões dolorosas das noites urinadas. Fingir figuras concebidas do desejo e da amargura. Instigações obscurecidas pela lua. Não acretido na pintura agradável. Há algum tempo meu trabalho é como um lugar em que não se pode viver. Uma pintura inóspita e ao mesmo tempo infectada de frinchas para deixar passar as forças e os ratos. Cada vez mais ermo, vou minando a mesma terra carregada de rastros e indícios ásperos dentro de mim, para que as imagens sejam vislumbradas não apenas como um invólucro remoto de tristezas, mas também como excrementos de nosso tempo. Voltar a ser criança ou para um hospital psiquiátrico, tanto faz se meu estômago dói. Ainda não matem os porcos. A pintura precisa estar escarpada no ponto mais afastado desse curral sinistro.
Nelson Magalhães Filho
Nelson Magalhães Filho. ALMOÇO NU, 1999, mista s/tela, 110X85 cm tua navalha abre os segredos selvagens da noitee te amo com a crueldade do veneno lançando golpes de mare acender-se-iam velas em teu corpo profundamente bluedesesperadamente possesso pousar os lábios carnudos de vermelhocomo bazuca retorcendo tua mordida seca de réptilprovocando intensa narcose capaz de perturbar os malditos querubinsescondidos nas entranhas dos lagartos tomando conta de mimte amo e rasgo um por um teus bálsamos luarizadostuas carícias despojadas de sentidodepois das horas ocasque me importa se a vida me estupra com suas ruas pungentes que não nos levama nada no fundo deste inferno...................se eu não posso tebeijar te quero demais louca sem disfarcea fronte emudecida ouvindo 15 invençõesa 3 vozes de bach feitiços este nosso amorbarrocoroubando-me anjo-vertigem animal-fogoo quanto me custa para sentir passar a línguano teu ouvido e gemer despedaça o courodo sapato marrom nas paredesos cartazes políticos urdindo seixos cospem na pia hirsutos-trêmulos-de-estrela-flor-guizo voluptuosamente ai que dor,não sei porque este raio de lua apedreja minha caraeu não quero me trancar todo de borboleta.Nelson Magalhães Filho
9 comentários:
você conhece a poesia do colombiano Efrain Medina?
lembra muito sua voz, acho que você pode gostar :o)
mas passo, hoje, para deixar meu beijo de fim de ano e dizer que desejo os melhores aromas, amoras, amores, brilho e brisa para o ano que está para acontecer.
até,
MM.
ps: obrigada por ter alegrado meus dias...........
ah, teus poemas...
tbém foi umas das coisas mais fantásticas que conheci esse ano.
"e te amo com a crueldade do veneno lançando golpes de mar".
Eu sou assim.. não sei amar de outro jeito.
Feliz Natal, Nelson,
que que o ano que vem seja repleto.
beijos!
Buenas, ler uma poesia como esta,causa alvoroço,faz a alma trepidar...
folego em retalhos:
uma poesia que além de comunicar com as apalavras, traz em sua forma um sopro do interior, da alma da propria poesia.
oi Nelson!
olha: tem novidade no Falópio e nas Descontroladas.
Apareça!
Um beijo!
texto colorido, mas de cores fortes, como seus quadros.
Boas Festas e um auspicioso 2008!
Anjo, obrigada pelas visitas e pelos votos. Desejo tudo de bom em 2008 e sempre! Gostei muito do videopoema. Aguardo os próximos, bjs, Ma
Cara, seu blog é sensacional. Suas telas são maravilhosas. Mas um baiano de grande talento. Eta terrinha abençoada. Valeu!
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