Teu cheiro amarfanho durante toda a cidade
e nos dentes postos sobre a mesa
como um escapulário tua lascívia eu pressinto.
Nem a lua nem teus olhos certamente me salvarão deste teu cheiro espesso.
Eu cresci nestas estranhas paragens sem estrelas entre bichos e flores
como se não fossem cobertos pela escuridão.
Apenas arfava um golpe entre o vazio de mim
e a captura de insetos do inferno em teus cabelos.
Em inquietude, me preparo para a dor.

Nelson Magalhães Filho


"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos

do mundo."
( Fernando Pessoa: Tabacaria)




Realizar trabalhos de arte a base das experiências existenciais, como transpor as imensidões dolorosas das noites urinadas. Fingir figuras concebidas do desejo e da amargura. Instigações obscurecidas pela lua. Não acretido na pintura agradável. Há algum tempo meu trabalho é como um lugar em que não se pode viver. Uma pintura inóspita e ao mesmo tempo infectada de frinchas para deixar passar as forças e os ratos. Cada vez mais ermo, vou minando a mesma terra carregada de rastros e indícios ásperos dentro de mim, para que as imagens sejam vislumbradas não apenas como um invólucro remoto de tristezas, mas também como excrementos de nosso tempo. Voltar a ser criança ou para um hospital psiquiátrico, tanto faz se meu estômago dói. Ainda não matem os porcos. A pintura precisa estar escarpada no ponto mais afastado desse curral sinistro.
Nelson Magalhães Filho

sexta-feira, novembro 30, 2007

Nelson Magalhães Filho. Série 2004-2006, mista s/papel, 70X50 cm
ouvia numa rádio uma antiga canção de infância
que lembrava de um beijo meigo na despedida,
o mais agônico entre coisas mortas.

minhas pinturas,
esses pequenos bichos nocivos
deixo como testamento.

através desses impuros animais no vazadoiro
evoco as veias silentes
nesta noite em que encontro a morte,
com seus doces murmúrios
e vestígios esquivos à hora de roer
minha vigília imperfeita.

Nelson Magalhães Filho

8 comentários:

Samantha Abreu disse...

Nelson, querido.
Primeiro, obrigada pela "aula" de blogspot. Consegui pôr o vídeo! Êba!


Depois, quero falar sobre esse teu poema:
tenho uma história que me liga totalmente à arte através da sensibilidade que me causa, que é totalmente enraizada nas músicas que meu pai me botava pra ouvir quando pequena. Aliás, Bob Dylan (aí embaixo) é um deles. Ray Charles é outro... seguidos de uma lista maravilhosa e enorme.
Agradeço isso ao meu pai, até hoje.

Beijos!

Maria Alzira Brum disse...

Oi Nelson. Pode, é claro. Respondo aqui na pintura que gosteimais. abraço, MA

http://paixoeseencantos.blogs.sapo.pt disse...

gosto das tuas pinturas por ser diferente das que costumo ver e pelas cores que colocas o k faz sobressair a gravura que colocas. :)
hje deixo um video com uma musica espanhola e espero pela tua visita
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(¸.*´ (¸.*` * Beijos...
carla granja
bom fim de semana

Luiza disse...

passando para deixar um olá!
Beijos

Anônimo disse...

Caro Nelson, sempre que venho ao Anjo Baldio, saio fascinado. Tanto com as imagens quanto com as palavras. Abraço, Mayrant.

Maria Alzira Brum disse...

belas imagens, Nelson, sempre... Mas que difícil comentar aqui... É claro que pode colocar as traduções no seu blog, fico feliz. abraço, MA

Senhorita B. disse...

Nelson,
Quero assistir Alice, viu?
Já soube que é o máximo!
Bjs,
Renata

Aestranha disse...

Foi um prazer conhecer este teu espaço! Adorei o poema!

Um beijo!