Teu cheiro amarfanho durante toda a cidade
e nos dentes postos sobre a mesa
como um escapulário tua lascívia eu pressinto.
Nem a lua nem teus olhos certamente me salvarão deste teu cheiro espesso.
Eu cresci nestas estranhas paragens sem estrelas entre bichos e flores
como se não fossem cobertos pela escuridão.
Apenas arfava um golpe entre o vazio de mim
e a captura de insetos do inferno em teus cabelos.
Em inquietude, me preparo para a dor.
Nelson Magalhães Filho
"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo."
( Fernando Pessoa: Tabacaria)
Realizar trabalhos de arte a base das experiências existenciais, como transpor as imensidões dolorosas das noites urinadas. Fingir figuras concebidas do desejo e da amargura. Instigações obscurecidas pela lua. Não acretido na pintura agradável. Há algum tempo meu trabalho é como um lugar em que não se pode viver. Uma pintura inóspita e ao mesmo tempo infectada de frinchas para deixar passar as forças e os ratos. Cada vez mais ermo, vou minando a mesma terra carregada de rastros e indícios ásperos dentro de mim, para que as imagens sejam vislumbradas não apenas como um invólucro remoto de tristezas, mas também como excrementos de nosso tempo. Voltar a ser criança ou para um hospital psiquiátrico, tanto faz se meu estômago dói. Ainda não matem os porcos. A pintura precisa estar escarpada no ponto mais afastado desse curral sinistro.
Nelson Magalhães Filho
Nelson Magalhães Filho. Série MORTE PELO SONHO, 1991, mista s/ madeira, 125X117 cm. " Minha quilha estoura! Me lanço ao mar!Cachorro morto em noite chuvosasou de uma raça de cachorro ruim desassossegado pelo sangue quebrota das noites-incompletudes escorrendoem angústias esquivassou de uma raça de cachorro maunauseado pela lua opiada nasmadrugadas latejantes de desejos lascivosbebendo peçonha tumultuandoos jardins com excrementos perversos.então escancaro umaréstia lanosa de lágrimaquando me queimo em tua lua segredadaquando substancialmente o animalestúpido cura sua compaixão.Nelson Magalhães Filho
7 comentários:
primeiro a pintura seria otima pra o meu texto 1969 o ano que me apaixonei, é a leitura visual, a escrita visual, plastica do meu texto, segundo o poema é algo que me desconectou, me levou para mundos paraleloe e mundos passados, é além de bonito, bem construido e suas imagens é o proprio conteudo, a forma remetendo o conteudo que por sua vez remete a forma. um poema de mestre e não de um ser medio, nelson magalhães filho e eu já disse pra ele antes e vou escrever aqui:
é um artista plástico, um poeta, um artista acima e muito acima da média vc me encanta e me desencanta e me maravilha.é bom ter acesso as produções de nelson pois ele me inquieta e coloca areia movediça embaixo dos meus pés
Nelson, caro cara, tinha me esquecido e hoje eu coloquei seu link lá no meu blog-blefe. Um grande abraço e vida longa.
Buenas,para curar paixões temos que virar cachorros doidos,enraivados,vira-latas,trepar na rua igualzinho a eles,depois vagar sozinho nas noites absurdas. Quando chegar em casa, morder seu "dono"...
Eis os tempos fáusticos na lírica do lugar, da almas pulsantes marginalmente nelsinianas..."Eu me lembro" da "morte pelo sonho" Odeio essas figuras, que moram lá em casa...Lita Pássaro
Digna do garoto da foto acima. Abraços.
olá, nelson! curti seu trabalho e o blog. visite o www.verbavisual.blogspot.com, blog da minha mulher. entre 1989 e 1992 vivemos em salvador. deixamos lá grandes amigos.
abraços!
Nelson, onde habita o seu msitério? Glorioso e providencial mistério?
Wesley
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