Pintura de Nelson Magalhães Filho. Série de 2004-2006, mista s/ papel, 70X50 cm
CAVALOS DISCORREM PELA AFÁVEL NOITE
cavalos discorrem pela afável noite
até ficar insuportável beijá-los
- com a língua beijar cavalos -
o tempo não passa nunca
o tempo chora sangue de anjo sangue de cavalo.
ainda não sei o que tem dentro de mim
que não passa nunca e chora
sangue de cavalo sangue de anjo.
eu cambaleava pela afável noite de ontem
com a sede insuportável do beijo
vadiando pelos becos escuros da gamboa
vadiando pelas ruas estreitas
esculpidas de perturbados da gamboa.
aí eu começei o canto esganiçado
para você me ver assim: uma
muralha de dor,
uma carne tecida de flores
que vão ficando álgidas de aves marinhas.
meu amor que não conheço apenas me pasta
neste tempo perdido no mar negro
abortando cavalos e cadelas e rezando pro anjo.
vivo pastando no mar negro como peixe boi
estrela do mar negro percorro temporais selvagens
e cada vez que me perco pela afável noite de ontem
o oco de mim vai vomitando
um sentimento nostálgico de perdas
espelhos de mortos com seus ossos de medo.
Nelson Magalhães Filho
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Literário...
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Há 4 dias
2 comentários:
olhar essas pinturas e ler esses poemas é ter a ceteza da razão do medo dos que tem medo dos seus proprios ocos e são eles proprios vomitados prara o espelho dos mortos
Buenas,este poema é um conforto,um grito,ou um canto estridente que faz-se urgente,que possa ecoar no nosso sub-solo mais fundo e imperturbável para acordar e expulsar sentimentos nostálgicos,terríveis e não identificados."o tempo chora sangue de cavalos..." Gracias.
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