Teu cheiro amarfanho durante toda a cidade
e nos dentes postos sobre a mesa
como um escapulário tua lascívia eu pressinto.
Nem a lua nem teus olhos certamente me salvarão deste teu cheiro espesso.
Eu cresci nestas estranhas paragens sem estrelas entre bichos e flores
como se não fossem cobertos pela escuridão.
Apenas arfava um golpe entre o vazio de mim
e a captura de insetos do inferno em teus cabelos.
Em inquietude, me preparo para a dor.

Nelson Magalhães Filho


"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos

do mundo."
( Fernando Pessoa: Tabacaria)




Realizar trabalhos de arte a base das experiências existenciais, como transpor as imensidões dolorosas das noites urinadas. Fingir figuras concebidas do desejo e da amargura. Instigações obscurecidas pela lua. Não acretido na pintura agradável. Há algum tempo meu trabalho é como um lugar em que não se pode viver. Uma pintura inóspita e ao mesmo tempo infectada de frinchas para deixar passar as forças e os ratos. Cada vez mais ermo, vou minando a mesma terra carregada de rastros e indícios ásperos dentro de mim, para que as imagens sejam vislumbradas não apenas como um invólucro remoto de tristezas, mas também como excrementos de nosso tempo. Voltar a ser criança ou para um hospital psiquiátrico, tanto faz se meu estômago dói. Ainda não matem os porcos. A pintura precisa estar escarpada no ponto mais afastado desse curral sinistro.
Nelson Magalhães Filho

quinta-feira, janeiro 18, 2007

Prévia do projeto de uma história em quadrinhos desenvolvida pelo artista plástico EDERSON, baseada no texto teatral FÚCSIA, de Nelson Magalhães Filho e Ronaldo Braga.

"LAKARUS: eu gosto de observá-los reunidos na dor. As fisionomias são melhores quando eles sofrem. São sensatos, são perfeitos. Cada filho, filha, mulher, sobrinhos, todos parecem muito inteligentes. É aí que reina uma calma assustadora. Nenhum movimento. Apenas a bunda, que não parecia pertencer àquele rosto sofredor de filha no enterro do pai. Adriana! No rosto, um ar de dignidade. Uma ternura quase absurda".

4 comentários:

Anônimo disse...

É, É com grande expectativa que aguardo a publicação dessa obra em Quadrinhos... Considero FÚCSIA, o melho texto teatral baiano escrito na década de 90 ou 2000, Zeca Magalhães e Ronaldo me deram com carinho um exemplar!
Eu não sei porque essa gente que escreve dramaturgia na Bahia ainda não volveu seus olhos para a pena de Ronaldo Braga e Nélson de Magalhães Filho, poetas, dramaturgos que nada ficam a dever aos ícones da dramturgia nacional. Cruz das Almas, terra de meu dindinho Abelard Rodrigues dos Santos, é também de Lita Pássaro, poeta linda, Jacinta, Joel de Almeida, Pablo Sales
Quero uma espada de rojão no Céu da Bahia e uma laranja de umbigo doce tal como o povo Bom de Cruz das Almas,

Anônimo disse...

NÉLSON,
desculpas, eu não não assinei o comentário,
abraços,
Miguel Carneiro.

Anônimo disse...

Falou Miguel, esta peça foi muito influenciada pelos CANTOS DE MALDOROR do Lautréamont e também no Samuel Beckett, além de tudo que a gente leu durante nossa existência. Grande abraço.

Anônimo disse...

o miguel é generoso mas tambem tem uma capacidade critica acima da media e alem de poeta é ator e autor de peças teatrais,tem romances publicados e livros para crianças,ouvindo isso dessa voz nós sabemos que estamos no caminho certo,o resto é uma questão de acontecer ou não.
obrigado meguel carneiro.