Teu cheiro amarfanho durante toda a cidade
e nos dentes postos sobre a mesa
como um escapulário tua lascívia eu pressinto.
Nem a lua nem teus olhos certamente me salvarão deste teu cheiro espesso.
Eu cresci nestas estranhas paragens sem estrelas entre bichos e flores
como se não fossem cobertos pela escuridão.
Apenas arfava um golpe entre o vazio de mim
e a captura de insetos do inferno em teus cabelos.
Em inquietude, me preparo para a dor.
Nelson Magalhães Filho
"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo."
( Fernando Pessoa: Tabacaria)
Realizar trabalhos de arte a base das experiências existenciais, como transpor as imensidões dolorosas das noites urinadas. Fingir figuras concebidas do desejo e da amargura. Instigações obscurecidas pela lua. Não acretido na pintura agradável. Há algum tempo meu trabalho é como um lugar em que não se pode viver. Uma pintura inóspita e ao mesmo tempo infectada de frinchas para deixar passar as forças e os ratos. Cada vez mais ermo, vou minando a mesma terra carregada de rastros e indícios ásperos dentro de mim, para que as imagens sejam vislumbradas não apenas como um invólucro remoto de tristezas, mas também como excrementos de nosso tempo. Voltar a ser criança ou para um hospital psiquiátrico, tanto faz se meu estômago dói. Ainda não matem os porcos. A pintura precisa estar escarpada no ponto mais afastado desse curral sinistro.
Nelson Magalhães Filho
Prévia do projeto de uma história em quadrinhos desenvolvida pelo artista plástico
EDERSON, baseada no texto teatral
FÚCSIA, de
Nelson Magalhães Filho e
Ronaldo Braga.
"LAKARUS: eu gosto de observá-los reunidos na dor. As fisionomias são melhores quando eles sofrem. São sensatos, são perfeitos. Cada filho, filha, mulher, sobrinhos, todos parecem muito inteligentes. É aí que reina uma calma assustadora. Nenhum movimento. Apenas a bunda, que não parecia pertencer àquele rosto sofredor de filha no enterro do pai. Adriana! No rosto, um ar de dignidade. Uma ternura quase absurda".
4 comentários:
É, É com grande expectativa que aguardo a publicação dessa obra em Quadrinhos... Considero FÚCSIA, o melho texto teatral baiano escrito na década de 90 ou 2000, Zeca Magalhães e Ronaldo me deram com carinho um exemplar!
Eu não sei porque essa gente que escreve dramaturgia na Bahia ainda não volveu seus olhos para a pena de Ronaldo Braga e Nélson de Magalhães Filho, poetas, dramaturgos que nada ficam a dever aos ícones da dramturgia nacional. Cruz das Almas, terra de meu dindinho Abelard Rodrigues dos Santos, é também de Lita Pássaro, poeta linda, Jacinta, Joel de Almeida, Pablo Sales
Quero uma espada de rojão no Céu da Bahia e uma laranja de umbigo doce tal como o povo Bom de Cruz das Almas,
NÉLSON,
desculpas, eu não não assinei o comentário,
abraços,
Miguel Carneiro.
Falou Miguel, esta peça foi muito influenciada pelos CANTOS DE MALDOROR do Lautréamont e também no Samuel Beckett, além de tudo que a gente leu durante nossa existência. Grande abraço.
o miguel é generoso mas tambem tem uma capacidade critica acima da media e alem de poeta é ator e autor de peças teatrais,tem romances publicados e livros para crianças,ouvindo isso dessa voz nós sabemos que estamos no caminho certo,o resto é uma questão de acontecer ou não.
obrigado meguel carneiro.
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