ABORTADA
"...não consegui chegar a nada. Nem mesmo tornar-me mau..."
Dostoiévski
Movimento-me entre lanças
assanhando as tranças,
imitando a "dança das borboletas"
que esmago
contra as tetas
das têmporas que pulsam
em compasso de aneurisma...
Não aceito que empurres
esta paz azedada,
alojada
na ponta da espada
das flôres que murcham
em hostis cataclismas...
Sustentado num fio
descoberto
vou-me suportando
em noites de martírio,
com remotos delírios
e jorros de escuridão.
Quando me abandonas
nu
baile das bestas
das madrugadas insanas,
agasalho-me em sextas
feiras
apinhadas de ratos
aninhados nos trapos
dos retalhos de mim...
Agora,
avanço bem lento,
cravando as unhas
lá dentro
da goela de outros,
imbecis e afoitos
que entre
mugidos e arrotos
vomitam
sim, sim, sim,
ao destempero dos ferros
que repisam os calos
aos gritos e berros
até que embalsamem
o cadáver da paz
que meu peito abortou...
Luciano Fraga
5 comentários:
LUCIANO FRAGA O POETA DAS DORES -AMORES - CONFORTO DAS ALMAS QUE COMO DISSE O RUSSO NÃO CONSEQUIU NEM MESMO SER MAU.MAS, SOFRER A SOLIDÃO, NÃO DA PELE, ANTES VAZIOS INTRANSIGENTES E EVIDENTES CAMUFLANDO A MORTE EM DOCES VENENOS.
esse quadro me impressiona, a leitura das emoções do interior do corpo humano como uma via-lactea de intenções. a possibilidade infinita das conexões das existencias.traços, re-traços, mundos devermelhos em loucos passeios pelo humor. humus. onde está a enkratéia? somente o trabalho responde a essa pergunta. a emoção transborda momentos.
a emoção transtorna sentidos e disvirtua toda prontidão.o oposto da enkratéia a emoção desorganiza a vida para permitir a vida.
Buenas,esta tela é muito mais que um aborto.È assistir a dissolução lenta,cruel da própria vida,tingida de vermelho.É o renascer de um novo ser...
Luciano Fraga, gosto deste poema, ele arranca emoção do leitor.Um abraço e bjs Lita Passos
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